Minha homenagem a Mayara Maia, uma longa carta, escrita com poucas palavras, algumas em cada um desses dias em que esteve em coma. Uma carta para que seus familiares guardem no coração, já que o coração da querida Mayara parou de bater.
Se você me ouvisse, eu cantaria essa música esquisita que trago aqui dentro, meio canção, meio poema, meio conversa de quarto fechado, luzes apagadas, longo anoitecer.
Eu falaria como se rezasse, e faria pausa para que os cachorros da casa ao lado dissessem da vida, das suas urgências, do seu dormitar.
Se você me visse, eu, ao modo de um longo lençol de infância, daqueles trazidos do baú da nossa mãe, desdobraria o meu silêncio sobre a cidade, para que os relógios se aquietassem, a brisa do mar segurasse o ir e vir das ondas,os pássaros voassem para seus ninhos, a azáfama do dia se fizesse anoitecer, com inúmeras estrelas no céu, a iluminar o topo das árvores.
E se você quisesse voltar pra casa, eu correria a despistar o tempo-espaço real, inventaria uma rua toda calma, orlada de flores,uma longa rua toda feita para o seu caminhar,uma longa rua toda lavada da nossa saudade.
Mas eu sinto, os relógios já não batem certo,as sílabas da minha canção se desconsertam,e nos seus olhos fechados, habita o mistério.
Não se deixe levar por esse sonho antigo, escute o mar, respire o cheiro da manhã de janeiro, venha pra casa!