(Este post está em minha coluna impressa do #jornalaUnião)
No dia de hoje, milhões de pessoas em todo o mundo, em horas variadas, estão reproduzindo um conjunto de gestos similares, para atualizar os seus sistemas #ios, nos dispositivos da Apple. Milhões de pessoas esperam com ansiedade para fazer o download, e suspiram de impaciência até serem finalizadas as configurações da nova interface. E, repetiram em todo o mundo, os mesmos gestos de varrer, tocar com as pontas dos dedos, agitar, pressionar o botão home para testar as novas funcionalidades.
Vive-se uma espécie de ritual cibernético global, marcado por uma coreografia manual tecida por uma gramática muito simples de gestos fundamentais, pondo em curso um prodigioso e complexo fenômeno de distribuição, transmissão e armazenamento de informações, em imagens, em áudio e em texto.
Fascinados, perdemos algum tempo explorando as redes sociais. Exercitamos aquela tagarelice virtual, como se fôssemos todos meninos saídos da sala de aula para o recreio. Milhares de pessoas trocando suas fotos de perfis, tuitando sobre atualização bem sucedida, algumas centenas pedindo socorro por algum insucesso.
O mundo instalado, atualizado, os horizontes previsíveis da telinha, deflagrando a imprevisível, inesgotável, instantânea teia dos sentidos.
Ninguém presta atenção ao gesto universal e invisível da transferência. Ninguém pensa acerca dessa mutação que se estabelece, silenciosa, onipresente, avassaladora.
A cada minuto, a cada segundo, pro milhões de maneiras, vamos transferindo nossas vivências, nossas memórias, nossas melhores imagens, nossa identidade, nosso estado civil, nosso estado de espírito, vamos transferindo tudo para a nuvem, vamos entregando o que há de mais íntimo em nós, para a esteira rolante dos negócios do capital informativo.
Candidamente, sorrindo a cada clique, vamos facilitando o trabalho da vigilância cibernética. Rastros, pegadas, cifras, estatísticas, códigos, senhas, deixamos tudo lá, tendo como único guardião das nossas coisas, um avatar editado.
Sociedade líquida, derramando-se em bits, que depois são organizados em informação rentável, ou então alimentam a clássica função que os gerentes da política haviam solicitado à comunicação: Vigilância e harmonização do tecido social.
Deixem que brinquem, que cliquem, que curtam. O mundo editado fala mais sobre cada um de nós, do que sonha nossa vã filosofia. Vigilância? Que nome tão tolo! Quantos de fato se importam com os desvãos obscuros dessa observação virtual? Por agora, a colmeia cibernética é somente tagarelice e devaneio, até a próxima atualização, e por séculos e séculos amém.
um abraço prima adorei a matéria
bj Rosa