Você nunca sentiu uma gota de chuva amanhecida na sua pele ainda vestida de noite? Nunca experimentou, ainda de dentro da cova do sono, esse chuviscar a brincar com a mornidão do seu corpo, a lavar seu último pesadelo, a lhe emprestar uma juventude alegre, toda grávida do cheiro das plantas de lá fora? Você nunca se perguntou por que não sente medo desses pingos de água, a passear com leveza por entre as dobras do seu braço, a escorregarem livremente pela pele lisa das suas costas? Foi assim que acordei hoje. Com um arremedo de chuva a tatuar minha pele com seus borrifos imprecisos, cheios do frescor matinal. Sacudí para o fundo da memória os sonhos da noite, abri-me de par em par para esse acontecimento de pingo d’água. E foi tão breve.Pequena sílaba molhada, que a brisa cuidou de desfazer, deixando em mim esse maravilhamento, esse primeiro batismo sem nome, esse quase diálogo sem fala, essa interação tão antiga entre o corpo e a água.
Você Nunca, Nunca, Nunca?
Publicado por Joana Belarmino
Jornalista, professora de Jornalismo na Universidade Federal da Paraíba, Mestra em Ciências Sociais, Doutora em Comunicação e Semiótica. Escritora, membro do Clube do Conto da Paraíba, Observadora credenciada do #OPJor, Observatório Paraibano de Jornalismo; coordenadora do projeto de extensão #MonitoraUFPB, analisando a qualidade da acessibilidade nos portais de notícias da Paraíba. Ver todos os artigos por Joana Belarmino
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Que sensibilidade linda!