Acabei de ler ontem, “A Fórmula de Deus, de José Rodrigues dos Santos. Como havia um mail de contato, decidi apresentar ao autor minhas primeiras impressões dessa viagem literária. Surpreendida e grata, reproduzo aqui minha carta e a réplica do próprio José Rodrigues.
Caro José rodrigues.
Em princípio queria agradecer-lhe pelo vigoroso romance. Acho que sua escritura foi sobretudo um ato de coragem. Traduzir teorias científicas de alta complexidade
em uma narrativa ficcional poderia ter dado errado, e não deu. Preservou-se a qualidade da teoria, ratificou-se a importância da sua divulgação, sem entretanto
perder-se a qualidade do romance em si.
tenho lido muito sobre todas essas questões, limitando-me entretanto às traduções em português, das obras de Michio Kaku, Pau Davies e outros teóricos desta
linha. O seu romance despertou em mim um misto de sensações diversas. Descrevo-as aqui livremente, para não perder a “primeiridade” das impressões, se
é que isto ainda seja possível.
Fiquei com um amargor na boca, uma espécie de sensação de que de fato caminhamos inexoravelmente rumo à uma evolução, a um fim teleológico. E porque me
amarga a boca? Porque pressinto que por agora, a vida é um instrumento desse caminho. Ou seja, nossa geração, e as gerações mais próximas num futuro, provavelmente
são instrumentos dessa viagem cíclica, mas não conheceremos este estágio final, sequer conheceremos estádios diversos precedentes.
Como se ocupássemos nosso ponto determinado nesse trem cósmico, nosso ponto determinado e imprescindível para que a aventura da criação da inteligência
não malogre. Mas com esta consciência transitória que agora temos, ínfimo suspiro da inteligência maior, não provaremos da aventura final. O que me diz?
Por outro lado, experimento um sentimento de quase regozijo por fazer parte disso, dessa aventura cósmica, ainda que o meu lugar pareça ínfimo. Não é contraditório?
acabada a leitura, senti vontade de descer do sétimo andar do meu prédio e tocar a terra, essa terra que tanto amo, experimentar em minhas próprias mãos,
suas fibras, sua tecedura de átomos. Acariciei os meus braços, e sorri ante à idéia de ser eu um conglomerado dos mesmos átomos que participaram da criação
inicial.
Muitas perguntas ficam aqui encapsuladas, mas um vívido agradecimento por tudo o que escreveu.
Joana Belarmino
Cara Joana,
Muito obrigado pelo seu amável e-mail.
Ainda bem que gostou do romance. Não me parece que me tenha colocado qualquer pergunta, mas o que fez foram sobretudo reflexões. E, a não saber que venhamos
a descobrir alguma coisa que o contrarie (o que é bem natural), parece-me que as suas reflexões reflectem exactamente o pouco que a ciência sabe sobre
o sentido da vida.
Um abraço do
José Rodrigues dos Santos
A Fórmula de Deus, Editora Gradiva, 2006.