Na manhã de hoje, enquanto me aprontava para iniciar o dia, escutei na tv, a apresentadora do “Mais Você” fazendo uma oração em defesa do Rio de Janeiro.
Não me recordo qual era o santo que ela invocava. Seria Santo Expedito? O certo é que pedia proteção para a cidade maravilhosa. Com sua voz monocórdia, pedia ao santo que livrasse o Rio de janeiro dos maus elementos, que estendesse um manto de paz sobre a cidade, que defendesse as famílias, as pessoas de bem… oração que era aparteada por Louro José, fazendo também o seu coro de fé.
Estava ali uma oração midiatizada da família brasileira de classe média alta, aquele tipo de família que acostumou-se a viver do lado de lá dos muros da cidade real, cidade suada, apertada nos coletivos, nos metrôs, cidade apertada entre as ruas estreitas, fazendo pesquisa de preço, contando moedas, apanhando no meio da rua santinhos e orações, que vão para dentro da bolsa surrada da mulher idosa, acompanhados por uma pontada de fé e de desesperança, tudo ao mesmo tempo agora.
A oração de ?Ana Maria, com toda certeza, chegara à sua caixa de entrada a mando de alguém muito amigo, uma corrente de fé deflagrada por mulheres piedosas, todas elas perfumadas, malhadas, o cheiro do medo a espalhar-se por seus corações, que não conhecem o que é viver em casas metade papelão, metade barro, ou mesmo em apartamentos de 40 metros quadrados, oito, dez pessoas tentando acomodar a tv grande na sala minúscula, para poderem ver o desfile astronômico e proibitivo dos produtos da sociedade de consumo.
Os “rolezinhos” de fato são a última invenção dos jovens para assustar os ambientes de classe média alta por onde circulam as famílias de bem. Jovens cheios de energia, que desde os tempos mais remotos “estorvaram” as vidas dos mais velhos, e que, nas culturas antigas, tinham que produzir grandes façanhas, na caça, na guerra, nas olimpíadas, para tornarem-se reconhecidos pelo clã, para receberem o selo de que haviam se tornado adultos.
Nos tempos que correm, nem caça ne pesca, somente a guerra surda, inspirada pela desigualdade, pela concentração da riqueza, pela transformação dos espaços reais em espaços fechados, hiperrefrigerados, ninhos para acomodar as mercadorias da sociedade de consumo, esta máquina produtiva que não para nunc de desovar seus produtos, a preços cada veiz mais proibitivos, para as famílias de bem das cidades brasileiras.
“Maus elementos”? Fiquei pensando na alcunha proferida por Ana Maria para os inventores dos “rolezinhos”, e, intimamente, disse ao santo que olhasse também para outros maus elementos, que não fazem “rolezinhos” nos shoppings, não roubam tênis de marca nem depredam agências bancárias. Disse ao santo que se ele porventura quisesse mesmo ajudar na faxina, olhasse para um outro tipo de maus elementos vestidos de terno e gravata, os que cuidam das roldanas econômicas e políticas da máquina social, os que ano a ano, ao longo dos séculos, equilibram o pêndulo da desigualdade a soldo da corrupção, da narrativa política de defesa do estado de bem-estar, das orações piedosas vindas por corrente, pedindo proteção para as “famílias de bem”.
Adorei profº Joana, me identifico muito com seu estilo, com os temas de cunho social muito forte. Afinal , você também é uma voz clamando no deserto. Seus alunos certamente são exortados . Temos que a duras penas, acordar deste sono pesadíssimo que muitas vezes termina entorpecendo uma classe que não quer acordar .
Maria do Rosário, bem vinda, grata por suas visitas e leituras!
Você assuma a voz dos esquecidos. Seus textos mantêm acesa a nossa indignação. Amo você, Joaninha. Rona Monte.
Querido Ronaldo, quealegria sua visita! Beijos!