Em queda livre, rumou para a morte ainda segurando a câmera, narrando o fato com sua polissemia de imagens, confusão de vozes, gritos e explosões, aclarando as sílabas incontestes do acontecimento.
Santiago Andrade é sem sombra de dúvidas o ícone midiático da semana. Alguns podem pensar: estava no lugar errado, na hora errada. Não, isso não se aplica a Santiago. Ele estava no lugar certo, na hora exata, dentro do acontecimento.
Santiago sabia, como a maior parte dos repórteres de rua sabem, que o jornalismo, muitas vezes é uma profissão de risco. E o tempo presente acelera as oportunidades para o risco, a imprevisibilidade, porque vivemos o tempo dos grandes conglomerados de pessoas, em conflito, em disputa, em luta contra a desigualdade, sejam quais forem os métodos.
Sim, o jornalismo é, na atualidade, uma profissão de risco. Na América Latina, nos países da África, em todas as áreas de conflitos do mundo, são alarmantes as cifras de jornalistas mortos, torturados, feridos.
O Brasil também tem as suas estatísticas. O fio da memória esticado, e não precisamos ir tão longe, para recordarmos o injusto processo de tortura e consequente assassinato do jornalista Wladmir Herzog, camuflado pelo exército brasileiro sob a montagem de suicídio, em outubro de 1975.
O sofrimento e a morte do jornalista deflagraram no país um processo de democratização, lenta e gradual, no qual a imprensa teve papel fundamental.
Em junho de 2002, o jornalista Tim Lopes foi torturado e morto por traficantes da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, quando realizava para a Rede Globo de Televisão, uma série de reportagens sobre bailes funk financiados pelo tráfico de drogas no Complexo do alemão.
Agora foi a vez de Santiago andrade, e havemos que nos perguntar, o que esses dois crimes têm em comum? Os dois acontecimentos lamentáveis estão amarrados por uma mesma pergunta que precisa ser feita: como trabalham os jornalistas?
Em que condições os jornalistas cobrem operações de risco? O que dizem as empresas acerca da necessidade de se reavaliar a cobertura da notícia em situações violentas, cujas vidas dos jornalistas precisam ser preservadas?
Agravam-se os conflitos sociais e os jornalistas serão cada vez mais necessários para a narrativa desses episódios. Entre rojões, a democracia não pode ser fragilizada.
Por outro lado, esperemos que a morte do cinegrafista Santiago Andrade não seja em vão. Que os jornalistas sejam considerados como essenciais, não apenas pela sociedade, mas sobretudo pelos empresários da comunicação que pagam por sua força de trabalho.