Nesse carnaval, aproveitei para me abstrair da folia, do agito, do samba. Fiquei em casa fazendo coisas triviais, sem a pressa dos dias normais de trabalho, sem o piloto automático, maravilhada pelo silêncio da minha rua, somente quebrado pelo canto dos pássaros, nas árvores vizinhas.
No domingo, escutei o barulho de uma máquina de carpintaria, numa rua próxima, e compreendi que outra pessoa, como eu, se abstraía do bulício do carnaval, trabalhando.
No History, assisti a uma aula de futurologia, para comprovar que o mundo caminha célere para o que previu a muito tempo a ficção científica: o reinado da inteligência artificial e da robótica.
Sim, passos significativos estão sendo dados, para a gestação de uma outra raça. Os seres artificiais. Eles ainda são uma novidade, mas já povoam laboratórios, clínicas médicas, hospitais, cozinhas, estádios de futebol.
Não se admirem se nos próximos dez anos venderem-se ingressos para jogos de futebol entre humanos e robôs. A inteligência artificial vai mais longe. Por artes da holografia, se prevê que em 2022 você compre um ingresso aqui no Brasil e vá ao estádio da sua cidade, assistir em tempo real ao jogo de França e Inglaterra que acontece na Itália. Um espetáculo em que você terá a dimensão do campo, o tamanho da torcida, seus cheiros, sua algazarra, multiplicada por milhares de torcidas, nos quatro cantos do mundo.
O carnaval, nos próximos dez anos, também mudará muito. Haverá desfiles para robôs, e do mesmo modo, os ingressos do desfile mais caro do mundo, do Rio de Janeiro, serão vendidos para uma exibição holográfica em qualquer cidade do mundo que a queira comprar.
Será um progresso sem precedentes no modo como trabalhamos, como nos divertimos, como nos comunicamos. Se hoje vivemos a fase de transferência das nossas vidas para o espaço virtual, o tempo da consolidação da inteligência artificial e da robótica nos permitirá transferir a maior parte das rotinas do trabalho humano para as nanomáquinas.
No History, o apresentador diz que ainda não foi possível reproduzir a inteligência humana, as habilidades e agilidades do nosso cérebro. Em pouco tempo porém, esse pequeno desafio será ultrapassado. As máquinas nos libertarão do trabalho, com muito mais eficiência e muito menor desgaste de energia.
Vitória da inteligência artificial, mas uma pergunta soturna empana o brilho da festa: E a inteligência humana? O que se fará dela? Apurou-se para 2013, que 41 por cento da riqueza mundial está concentrada nas mãos de 0,7 por cento da população. Desemprego, pobreza, milhões e milhões de pessoas no mundo ainda estão submetidas a condições de vida que refletem uma profunda desigualdade. O progresso, a largos passos, instaura a era da inteligência artificial, sob a égide de um paradigma que privilegia a técnica e descarta o humano.
(Este post foi publicado hoje nna versão impressa do Jornal A União)
Passei os dias de carnaval em casa, vendo filmes, seriados e jornalísticos, e também lendo o livro de Zé Luiz Braga, o qual discorre sobre a resposta social sobre a mídia. Mas, quanto a sua análise, ela é bastante pertinente e devemos debater muito sobre isso. Será que os humanos têm finalidades/objetivos definidos à evolução da inteligência artificial?