Caro Bauman, este e-mail é uma brincadeira que faço com os leitores do meu blog, mas, uma brincadeira muito séria. Nele eu falo de uma caçada. Uma caçada que promete demorar, e que já dura semanas. A caça, não se sabe direito quem ela é, já se sabe porém, que surpreende o mundo, por haver despistado o maior aparato da sociedade pós-industrial, ou seja, aquilo a que o senhor chama de “vigilância líquida”.
Já sabe que falo acerca do Boeing 777 da companhia Malaysia Airlines e do seu inquietante desaparecimento.
Se tiver sido um roubo, eu diria que é ainda mais engenhoso do que o assalto ao trem pagador, e note que a façanha nem pode mais ser atribuída a Bigs. Se for um atentado terrorista, é menos sangrento que o 11 de setembro, mas é talvez mais intrigante que aquele terrível episódio das torres gêmeas.
A caçada envolve números e aparatos respeitáveis. A área de floresta geográfico-cibernética é tão vasta que cobre cerca de vinte países. Os aparatos tecnológicos fariam inveja à maior matilha de cães de caça: Satélites, sistemas de vigilância, todos os drones já inventados.
Concordo consigo. Vivemos numa sociedade tecnológica, na qual o privado morreu, asfixiado por essa ganância dos mais de duzentos milhões de internautas, que alimentam e retroalimentam, segundo a segundo, o fenômeno da publicização das suas vidas individuais.
A nova engenharia das comunicações organiza-se para um salto de eficiência no que toca ao monitoramento desse oceano informacional, new cibergarimpo de onde se extraem as pepitas de ouro e diamante que alimentam a vigilância política, de mercado, das guerras por patentes e tantas outras vigilâncias autorizadas por sociedades fascinadas pela técnica.
O desaparecimento do Boeing porém, coloca no centro da mesa um ato de esperteza (ou diremos inteligência)? Coloca na mesa, uma força-tarefa de contra-engenharia, capaz de burlar todo esse aparato, capaz de silenciar sofisticados equipamentos de fluxo informativo, capaz de esconder-se desse novo “panópticum” global empenhado na sua caçada.
Assange,Edward Dawson,o que nos dirão?
E nós próprios, enquanto postamos fatias das nossas vidas privadas no Facebook, no Twitter, enquanto nos maravilhamos com a panóplia de aplicativos para que o nosso micromundo possa ser editado e distribuído globalmente na sua melhor versão, será que temos ciência do quanto estamos vulneráveis e desprotegidos nessa imensa floresta cibernética?
Senhor Bauman, não resisto a mais uma brincadeira, para amenizar a minha perplexidade: Na fábula pós-moderna, me parece, Chapeuzinho vermelho, vovó e Lobo Mau estão unidos. Os caçadores, estes, estão cansados, e perderam as chaves da casa. Nós, indiferentes ao tropel da guerra entre engenharia e contra-engenharia,damos livre curso ao à nossa narrativa cibernética do presente.