Fast-Food Bizarro

Nosso mundo é louco. Nosso mundo é louco e triste. Nosso mundo é louco, triste e bizarro. Senão contemple as notícias. Faça uma busca no Google e se espante com os mais de um milhão de achados para a chamada “meninas sequestradas”.

            Na Nigéria, o movimento islâmico extremista Boko Haram, assombrou o mundo ao afirmar que sequestrou, numa escola do norte da Nigéria, mais de duzentas meninas com idades entre dezesseis e dezoito anos e que as vai vender como escravas, em cumprimento às ordens de Deus.

            No Brasil, a crueldade instantânea e corrosiva também não tem limites. Ou você não viu na tevê, o linchamento da mulher, acusada nas redes sociais, de ser sequestradora de crianças para rituais de magia?

Fabiane Maria de Jesus, dois sobrenomes fortes, mas não adiantou. Foi espancada até à morte, por conta de um boato e de um retrato falado publicado no facebook.

Nosso mundo é irreal, ou eu deveria dizer hiper-real? Pois olhe as pessoas, no trânsito, no shopping, na praia, nos bares, todos vivendo vidas paralelas, postando fotos de cada um dos seus instantes, varrendo suas pequenas telas, transmitindo, lendo rapidamente milhares de postagens, ficando em estados de alerta, prontos para o vale tudo?

            A violência virou fast-food, que você pode deglutir na tevê, no rádio do carro, nas redes sociais, ou pode até registrar, em tempo real, mesmo da janela do seu edifício, para depois postar as imagens sangrentas, que são então compartilhadas, curtidas, comentadas.

            Nosso mundo sangra por todos os poros, nossa cultura tem a pele esgarçada, triturada por esses milhões de passos trágicos de uma dança bárbara, inventada aqui e agora, na qual a morte virou a única moeda.

            A morte, esta incansável senhora de mil faces, já nem tem tempo de recolher os seus cadáveres. Rápida como um raio, que há que levantar leitos e carruagens para as almas que partem, a morte espanta-se de ver tantas mulheres e meninas sendo descartadas.

            Enquanto se apressa, porque sabe que terá de acudir as almas das primeiras meninas vendidas na Nigéria, a morte ainda encontra um átimo de segundo para um naco de filosofia: ”Vida, que palavra é essa completamente esvaída dos seus sentidos? Eis que este é o meu reino, eis que a golpes de privada, de cutelo, estampidos e facadas, expurga-se a juventude, esfola-se e mata o templo mesmo onde a vida poderia ser germinada”.

            Á pressa, a morte mira de relance a decoração de um grande magazine com suas mega-promoções para o dia das mães. Dá de ombros e deleita-se com o som da tropelia dos seus mil pés, a saltitar por entre os rejeitos de vida descartada.

            Avança, acode aos múltiplos chamados, esbarra e dá safanões pra cá e pra lá, mas ninguém se dá conta, olhos fitos em seus dispositivos, fascinados por essa vida paralela a escorrer pelas linhas de transmissão.

            “Um mundo morto, suspira a morte de felicidade, enquanto embarca para o norte da África.

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