“Por que dilma mata as Pessoas”?

Guardei essa história, esperando que os ânimos esfriassem um pouco, mas ela ficou aqui dentro, pedindo pra ser contada.

Foi assim: No domingo do segundo turno, no final da manhã, depois de todos termos votado, eu e minha família decidimos ir almoçar num restaurante do centro da cidade.

Adentrávamos ao local, quando um pai e seu filho estavam deixando o restaurante. O menino, de cerca de seis anos, perguntou ao pai: “Pai, por que Dilma mata as pessoas”?

Ficamos chocados, quisemos dizer algo, mas, aquela era uma conversa privada, entre um pai e um filho pequeno.

Assistimos à saída dos dois, testemunhamos o silêncio constrangido daquele pai, que agora sentia vergonha por havemos escutado a pergunta do seu filho.

Fiquei por muito tempo contemplando aquela pergunta. Uma pergunta feita com inocência, mas também com urgência. Urgência que houvesse uma resposta, urgência por compreender o que para aquele menino pequeno era inexplicável e cruel.

A pergunta infantil revelava muito. Adivinhei a terrível conversa na hora do almoço, o desfiar da boataria, sobre a suposta morte do doleiro, aquela que funcionou como a última bala de prata para se tentar conturbar e alterar o resultado das eleições.

Imaginei as risadas, as chacotas, e o menino pequeno, do fundo da sua inocência infantil, indignado com a perspectiva de que uma assassina cruel pudesse ser eleita novamente presidenta da república.

Fiz uns cálculos rápidos, e constatei que no máximo em dez, doze anos, esse menino terá se transformado num eleitor. Alimentando-se desse caldo de cultura onde ele vive, que tipo de eleitor será ele? Em que base ele construirá os argumentos para o seu voto?

A votação acabou, vieram os resultados eleitorais, e, novos sintomas da velha intolerância foram despejados sem medidas nos nordestinos. A mídia comercial, alertava para um “país dividido” face à campanha violenta da candidatura Dilma Rousseff,como se essa fosse uma invenção de agora, como se nosso país tivesse sido antes, um lugar mais ou menos harmônico, sem fraturas nem divisões.

Compreendi, que o maior fracasso da sociedade contemporânea reside sobretudo nas estratégias de comunicação que põe a serviço dos indivíduos, a fim de que se geste a opinião pública.

Nossa mídia comercial abdicou da pluralidade das explicações, e empenha-se no exercício da voz única. Por outro lado, se os indivíduos alçaram-se à condição de emissores, na era tecnológica atual, reproduzem a cultura midiática da intolerância, do sim ou do não, numa ciberesfera onde aboliram-se todas as fronteiras geográficas, mas aumentaram significativamente as distâncias culturais, onde recrudescem a intolerância, o preconceito, a ignorância calcada na informação falsa.

Fico tentada a pensar que naquela cena ligeira, mas tão profunda nos seus significados, perpetrava-se ali um crime eleitoral, contra um menino pequeno, um crime contra a infância, contra o direito à liberdade de pensamento.

 

(Este post foi publicado hoje em minha coluna no Jornal impresso a União).

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