Meio minuto talvez, mas era a notícia sobree a inauguração da nova cidade reconstruída em um dos vilarejos destruídos pelo tsunami ocorrido no Japão em 2011. O repórter falou rápido, talvez premido pela agenda do tempo de tevê. Nem entendi direito o nome da nova cidade.
Querendo saber mais, fui ao G1, e lá encontrei dezessete linhas sobre o acontecimento. Fiquei sabendo que a cidade se chama… benditos control c contro v, a cidade se chama Tamaura-nishi, e recebeu ontem seus primeiros moradores, vindos de seis cidades que foram destruídas pelos terremoto e tsunami ocorridos em 2011 no nordeste do país.
A cidade recebeu 833 moradores, que vão dividir as 315 casas.
Fechada a notícia em seus números frios, o telespectador mais atento, o leitor mais percuciente, engole em seco, e se prepara para o tsunami de questões que então passa a formular.
Quantas famílias terão ficado intactas? Há órfãos? Em que casa vai viver a menina pequena que ficou sem os pais? Quantos idosos desemparelhados vão para casas desemparelhadas?
Recordo que na notícia da tevê, Evaristo Costa exibia o seu sorriso mais otimista. Estava alegre. E então me pergunto, terá havido alegria nessa primeira ocupação?
Suspeito que sobretudo os jovens estavam alegres no primeiro momento de chegar, abrir pela primeira vez a porta nova da casa nova, precipitar-se para dentro, desembrulhar pequenos volumes dos seus pertences.
Suspeito que os velhos não estavam alegres. Suspeito que neles houvesse uma contenção de gestos, um respirar sutil mas nervoso, um vazio no estomago, um vago suor nas mãos enrugadas.
A tragédia do Japão foi de tal magnitude, que fica difícil medir esse acontecimento da inauguração da cidade em dezessete linhas, ou em menos de um minuto de tempo de televisão.
Pense por um segundo em milhares de pessoas vivas perdendo essa condição, sendo esmagadas, soterradas, desaparecidas. Pense nos que ficaram, na sua dor, no medo profundo a lhes tirar do chão e a lhes plantar em algum lugar sem nome, onde a angústia, o medo, são o único vibrato contínuo e sem tréguas…
Imagino que se falou pouco nessas primeiras horas de ocupação. Cozinhou-se arroz, preparou-se alguma bebida quente,pode ser que alguém, um senhor idoso, tenha experimentado tocar sua flauta, na sala nova da casa nova.
Não, as notícias não são senão, frágeis chaves que sempre se quebram, à primeira tentativa de abrirmos portas. As notícias dizem-nos o que menos importa, ou nos entregam somente o discurso insosso da generalidade. Não, as notícias não nos contam nada.