De quem é a vitória do processo de impedimento da presidenta Dilma Rousseff? Que efeitos e impactos ele terá na sociedade? Pensei muito sobre essas questões, enquanto assistia ao último longo dia que só se encerrou na manhã de ontem, e firmaram-se aqui dentro da minha cabeça algumas convicções.
O processo de impeachment é de fato um golpe parlamentar e só foi possível na conjuntura específica em que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, dispunha de vontade e de poder de influência sobre o quórum qualificado dos 367 parlamentares que votaram positivamente na proposta de afastamento da presidente.
Creio porém que o mais importante fator de impulsionamento e vitória desse processo, tanto na Câmara como no Senado, é a Operação Lava Jato, e a maneira como ela vai sendo operada, como uma espécie de máquina engenhosa, que ora é acionada e captura suas vítimas, ora é entremostrada aos que ainda não foram capturados, funcionando como uma ameaça clara a projetos políticos de centenas de parlamentares, distribuídos nas duas casas do Congresso Nacional.
Assim ouso pensar que o grupo judiciário que lidera a Lava Jato, sob a coordenação do juiz Moro, está em perfeita sintonia com o grupo político que deflagrou o impedimento, e que agora precisa levar a cabo o projeto da “Ponte para o Futuro”, envolvido com a marca publicitária de “Ordem e Progresso”.
É verdadeira a máxima repetida por Temer e ecoada na mídia brasileira, de que a Lava Jato não vai parar. Agora a operação entrará numa nova fase, menos frenética, mais burocrática, mas, servirá como a espada de Dâmocles nas cabeças dos parlamentares renitentes ao projeto do país de futuro a ser implementado pelo governo interino.
Uma coisa que ninguém diz a sociedade porém, mas que já vem sendo comprovada nos últimos dias, é que certamente a Lava Jato não ameaçará o novo governo. O primeiro objetivo da operação, qual seja, a criminalização do Partido dos Trabalhadores, seguirá seu curso, visto que o processo de impedimento ainda não tem um crime, um atentado à constituição, cometido pela presidente. A Lava Jato serviu e servirá como alimento à vontade política para retirá-la de vez do cargo, e de bônus, impedir que o ex-presidente Lula concorra às eleições em 2018.
Central nessa organização parlamentar/judiciária, será a atuação da mídia comercial privada, que construirá a narrativa apropriada a um país que caminha rumo ao futuro, acentuando os desafios do novo governo, e alimentando com fatos novos ou requentados, a cobertura desvantajosa dos treze anos do petismo.
Os impactos desse processo no âmago da sociedade não são fáceis de prever no momento atual, mas é certo que se reestrutura à força do golpe, a política tradicional do PMDB, pronta a azeitar suas fórmulas antigas com as receitas neoliberais dos parceiros do PSDB.
Se em 2014 a sociedade estava polarizada, agora ela está dividida por muros, e, a ponte que a faria transpor para o futuro, na verdade a impele a um retrocesso que traduz-se numa ameaça cabal à diversidade humana e cultural, aos direitos de cidadania e a possibilidade da construção de um país menos desigual e mais justo.
Este post será publicado em minha coluna impressa do Jornal a União de amanhã.