O Diapasão Midiático

 

A notícia da semana gira em torno da prisão do ex-deputado Eduardo Cunha. A narrativa que ganha o mundo, porém, exibe a um telespectador mais atento, os mecanismos de uma mídia volúvel, superficial, telenovelesca, interessada em ficar bem diante da sua débil audiência, ficar bem em qualquer situação.

Vivemos em meio aos escombros de um país que a própria mídia ajudou a construir. A grande imprensa trabalhou ativamente em favor da candidatura do então deputado eduardo Cunha à presidência da Câmara dos Deputados. Festejou a derrota do candidato petista, e, com a força do presidente eleito, realizou a louvação cotidiana da necessidade do impeachment.

Com frieza e determinação, Eduardo Cunha deu curso ao processo, garantindo inclusive cobertura em horário nobre, determinando a última sessão de votação para um domingo, 17 de abril.

A grande narrativa da época, aliás, recorde de publicização midiática nos últimos cinco anos, era a de que o Partido dos Trabalhadores precisava ser extirpado da cena política, por ter se constituído como uma quadrilha, em assalto aos recursos públicos, tendo protagonizado os maiores escândalos de corrupção da cena política do país.

Cumpria-se assim, um dos primeiros princípios do diapasão midiático: Se não aparece na mídia, não é escândalo, não há corrupção. Ignoraram-se outros escândalos, a exemplo do Panamá Papers, as inquietantes denúncias das obras do metrô paulista, o escândalo conhecido como “mensalão de Minas”. Inculcou-se na mente da débil audiência, a ideia do partido corrupto, forjaram-se os ícones do Lula presidiário, da Dilma enforcada, e, em contrapartida, a sinfonia do país novo, limpo, de gente trabalhadora e honesta.

Consciente da memória curta da sua débil audiência, a grande mídia cumpre agora, o segundo princípio do seu diapasão: A mídia sempre ficará por cima e terá a última palavra, sempre ficará com o melhor ângulo, na cobertura da informação. Menosprezou as denúncias do Partido dos Trabalhadores, de que seus líderes estavam sendo vítimas de uma perseguição seletiva, reforçada pela própria mídia. Nesse episódio da prisão de Eduardo Cunha, a mídia de novo exibe como narrativa central, a ideia de que perde força a hipótese do PT, de que está sofrendo perseguição política.

Na verdade, o que flagrantemente se desmantelou, foi a tese central do processo de impeachment. A corrupção infesta a política em séries históricas implacáveis, empestando todos os mandatos políticos do país, debilitando a sua frágil democracia no momento atual, quando se impõe à força, à uma sociedade atônita, um projeto político indireto, filho do poder econômico e com todo o aval da grande mídia.

Cumpre-se também, o terceiro princípio do diapasão midiático. O capital tem pressa em cobrar a fatura do impeachment. A mídia passa seus recados ao presidente indireto Michel Temer. Clama pela aprovação em segundo turno da Pec 241, e, com sua narrativa sintética e suas imagens em hd, avisa: Somos mestres em erguer e derreter personalidades e autoridades. E sempre ficaremos com o melhor ângulo da cobertura.

 

 

Este post será publicado amanhã, em minha coluna impressa do Jornal A União.

 

 

 

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