O modus operandi da
mídia brasileira, no que se refere à cobertura política, é como um disco de duas faces, se quisermos, como uma espécie de mantra com dois polos bem nítidos, negativo, positivo, a depender do governo que esteja no poder. Há outras estratégias mais sutis, mas a principal delas envolve mesmo a operação de mudança de face, como se por muito tempo houvesse sido rodado o lado A do disco e agora se executasse o lado B.
Os treze anos do governo do PT na presidência da república, permitiram que conhecêssemos todas as faixas do polo negativo da cobertura política. Havia um noticiário ininterrupto cuja narrativa central era a quadrilha de corruptos, liderada pelo ex-presidente Lula e pela então presidente Dilma Rousseff, a partir de 2010.
Nunca foram tão úteis ao sucesso dessa estratégia, a rádio que “toca notícia” e a cobertura em tv fechada, em todas as horas do dia.
Agora porém, estamos conhecendo a outra face do disco da cobertura política. Agora a mídia roda a narrativa positiva do governo que ocupa o poder de forma indireta, após o longo e duro processo de impedimento da presidente eleita pelo voto popular.
Tocar a faixa positiva do governo, não é tão simples. O jornalismo, desde que o mundo é mundo, alimenta-se de noticiário forte, onde possa ser reproduzida com nitidez, a fórmula na qual a realidade possa lembrar a ficção, e onde as pessoas sejam claramente informadas sobre o bem e o mal. Com os governos petistas no poder, era fácil alimentar o ódio às esquerdas, era simples fazer a associação tão explorada pelos contos de fada, a bruxa má, o príncipe salvador, os quarenta ladrões, um país desgovernado e o mandatário correto e probo preso à torre do esquecimento, com seus trajes decorativos.
Óbvio que tocar a face B, com suas faixas positivas para o novo governo, exige estratégias sutis, para que não se perceba tão claramente as marcas da mudança de ângulo. A mais importante estratégia pede que o nome do presidente Temer somente apareça vinculado à notícias positivas. Quando as notícias são negativas, fala-se somente em presidente, mas não se pronuncia o seu nome.
Uma outra estratégia certeira é a de colocar as celebridades da tv para anunciarem as boas novas do governo. Pegue-se uma boa nova e a faça rodar a semana toda, com pequenas mudanças narrativas, nas vozes de Míriam Leitão, Alexandre Garcia, e todos os outros célebres da cobertura política.
O método é semelhante ao que se fazia nos governos do PT, só que com as notícias negativas, que rodavam toda a semana, com pequenas modificações no modo de apresentação.
A façanha midiática não tem tamanho. Rodar o polo positivo dessa cobertura não é tarefa simples, quando um governo por si só gera tantas notícias negativas. Uma pergunta porém, há que ser respondida: Por que a mídia brasileira faz coberturas tão polarizadas, e sempre nos extremos? A resposta é desalentadora. A mídia brasileira não faz jornalismo social, mas, realiza o que poderíamos chamar de jornalismo comercial. Assim, a face B do seu disco está reservada aos governos que pagam melhor a fatura.