O título vem entre aspas porque não é meu. Surgiu na esteira de um diálogo mantido com uma amiga inteligente, a propósito da última quarta-feira, quando a Câmara dos Deputados consolidou o processo de arquivamento da denúncia de corrupção passiva contra o presidente Temer.
De fato, temos falado muito de política nos últimos tempos, mas estamos todos perplexos, angustiados e mais ou menos paralisados pela situação extrema a que o país foi submetido. Conforme eu disse na coluna anterior, o “presidente decorativo” prosseguirá com sua astúcia, a desmontar o estado, a desintegrar políticas sociais, a entregar nossas reservas à voracidade do capital mundial.
Tudo agora tem certificação do parlamento. Ganhou nova chancela para prosseguir com seu modus operandi, fundado na força, na truculência e na retórica fraudulenta.
O presidente clama pela reforma da previdência em seus vídeos em redes sociais, mas, na calada da noite, assina decretos que isentam a bancada ruralista do pagamento de dívidas com essa mesma previdência que ele vai reformar.
Nos discursos, fala com entusiasmo de um país cuja economia está melhorando, o emprego voltou, a inflação caiu. No país real, vive-se deflação, por conta de uma economia completamente deprimida. A inflação rosna e brevemente arrombará os portões de saída, graças aos aumentos de gasolina e energia.
O reformador do absurdo tem uma biografia a zelar. Foi por ela que lutou dia e noite, a fim de garantir a vitória de quarta-feira. Quer passar à história como o presidente que em menos tempo, colocou o país nos trilhos. Há que se inventar um termo para essa visão deformada. Há que se lhe entregar um espelho para que ele veja o que está fazendo com o país. No Jaburu, no Planalto, ou não há espelhos, ou o presidente interino se nega a olhar para eles.
Com mão firme, vai arquitetando seu próprio país, com os carimbos da lei e da proteção, com a força bruta da malhação em escadas e jantares com políticos, com a argamaça da retórica, em grande quantidade.
No país de Temer, não há malas de dinheiro, nem conversas com criminosos, nem aquela algaravia tola de que “tem que manter isso aí, viu”?
No país de Temer, há uma ponte para o futuro, uma ponte realmente muito estreita, onde não cabe o povo, nem seus direitos sociais, tampouco os comunistas de esquerda. Na ponte do reformador do absurdo, só cabe uma espécie de pequena corte dos “iluminatti” brasileiros, que levam na bagagem o seu religioso ódio de classes e os seus planos sintéticos mas arrasadores: Fim da previdência, fim do estado, neoliberalismo real, a todo e qualquer custo.