Passados quase oito meses do governo Bolsonaro, algumas perguntas estão sendo feitas por especialistas, cidadãos comuns, formadores de opinião em geral. As respostas são preocupantes. A primeira pergunta que se impõe é a de saber se as reformas impostas ao país trarão consequências de longo prazo, e, algumas delas, irreparáveis.
Para algumas dessas questões, as previsões são inquietantes. A reforma da previdência, por exemplo, poderá gerar uma horda muito grande de indivíduos que nunca conseguirão se aposentar, seja porque dependerão do mercado informal ou do sub emprego, e assim não alcançarão fazer parte daqueles coletivos de trabalhadores que contribuirão para a previdência, podendo fazer jus ao direito após quarenta anos de trabalho.
Os cortes impostos à pesquisa científica e à educação no ensino superior já acarretam perdas irreparáveis. Descontinuidade dos processos habituais de formação, precariedade na prestação dos serviços terceirizados, impossibilidade, em quase todas as universidades, da participação de docentes e estudantes em eventos nacionais e internacionais para o compartilhamento do conhecimento produzido.
Nas universidades, aliás, uma espécie de espada de Dâmocles paira sobre as cabeças das comunidades universitárias. Em setembro, por exemplo, a nossa UFPB ameaça parar suas atividades, por falta de serviços essenciais como energia, telefones, e atividades de limpeza e manutenção das salas de aulas, laboratórios e demais ambientes de trabalho.
O incisivo processo de privatizações, celebrado pela grande mídia, pela classe política e por expressivos setores da sociedade civil demonstra a tenacidade do governo para reduzir o tamanho do estado, que se centrará, como diz o próprio presidente, em políticas de segurança, de atendimento a demandas na educação básica e desenvolvimento do país.
Nessa estreita rubrica, entenda-se como política de segurança, o fortalecimento das ações ostensivas da polícia nas comunidades pobres, associada ao armamento dos cidadãos do campo e da cidade; para a atenção à educação básica, entenda-se censura aos conteúdos, militarização do ensino e extinção de disciplinas como filosofia, sociologia e história; na área do desenvolvimento, há que se facilitar a liberação dos agrotóxicos, a liberação de terras indígenas para a exploração da garimpagem e de outras riquezas naturais; a abertura integral do mercado para o capital estrangeiro; a entrega dos parques e reservas para os negócios do turismo mundial.
O grito mais alto de alerta vem do meio ambiente. Os desfalques criminosos perpetrados contra a floresta amazônica já são irreparáveis. Florestas são coletivos vivos. Ecossistemas complexos que levam centenas, senão milhares de anos para se recomporem. A sanha liberal progressista do atual governo não compreende a relevância dessa biodiversidade e não olha senão para a mesma, com uma caneta bic em riste, calculando as cifras que serão auferidas com o garimpo, o agronegócio e a especulação imobiliária.
O país do futuro pode ser um território estéril, com um amontoado de problemas insolúveis, um povo sisudo e revoltado, demarcado por uma clara cisão entre uma grande maioria de empobrecidos e uma pequena casta de gente branca muito rica. Há que se inventar um novo nome para esse lugar, que vem celeremente se convertendo num gigante encolhido.