Saída de Si

Você me disse que queria sair de si, e a frase brotada do seu desalento foi como um chamado, uma senha, um eco reverberando dentro de mim mesma.

E eu fiquei pensando como seria empreender essa viagem. Fiquei pensando que eu também queria sair de mim, sair de mim sem fazer as malas, sem passar no caixa eletrônico, sair de mim de vagarzinho, às apalpadelas, como se não desejasse me despertar do meu sono leve, como se fugisse das despedidas,sair de mim pela porta da cozinha, sem sequer olhar para a louça amontoada na pia, o cesto de lixo a abarrotar das cascas da manga que eu comera a pouco,sair de mim com o vento da manhã a zunir os seus impropérios de brisa por entre as roupas do varal.

Sair de mim sem fazer alarde, como na música cantada por Chico, empoleirar-me na árvore torta, à frente da minha casa, como um chumaço de folhas, quem sabe um pequeno pássaro ressabiado com sua primeira proeza de voar, Sair de mim para depois me procurar, e me ver fazendo as coisas de todos os dias, o café da manhã, a oração desordenada e sem rumo, no sofá da sala, a busca do correio eletronico,  a escolha da roupa, a escovação dos dentes,o pentear do cabelo, a mão no trinco da porta, o premir do elevador, chegando perto da árvore torta, consultando o relógio, a mão direita abrindo a porta do banco do carona.

Saída de mim, eu então me perguntaria quem saíra de casa, e por um momento, um ínfimo momento, eu pensaria que eu estava morta. Depois sorriria de tamanha tolice. Era a vida o que habitava em mim, com toda a sua leveza, com todo um suave desatino que me permitia moldar pensamento, movimento e ação.

E sem nenhum laivo de tristeza, pensei que era você, desapropriada de mim, quem tinha morrido, com todo o peso das suas roupas, da sua pele, do bando de pássaros do seu desespero a fazer ninhos dentro de si.

E eis que você, misteriosamente surgida do nada, com seu eterno modo de querer controlar as coisas, desarticula minha árvore torta e encerra minha viagem de si com o um insípido ponto final.

Quando não posso correr para lá, nem dar um grito

Tantos dias sem postar uma pedrinha que seja, e eis que venho aqui com minha sacola de tristezas. Pois é, garota 5.0, estou à flor da pele, como diria a canção, e quando leio esta notícia dos dois exoplanetas a 13 anos luz daqui, a vontade é de chorar, de encolher-me, de virar poeirinha cósmica e zarpar.

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Por que não te Calas, Asha Mirje?

Hoje eu venho falar sobre sexo com você, garota 5.0. E venho indignada, e venho disposta a abrir as comportas do meu incômodo, desarrolhar todas as perguntas que precisam ser feitas.

Um dia um amigo me perguntou como eu definia uma relação sexual. Como um ato de amor, eu lhe disse. Um ato da mais íntima entrega, um ato de respeito, de ousadia, de carinho, de gozo. Disse mais coisas a esse meu amigo. Disse que todo mundo deveria ter direito a esse tipo de ato sexual.

É óbvio que eu falava para esse amigo, daqui do meu mundo protegido, limpo, cheio de arrazoados bem estruturados.

Para quantas pessoas no mundo o ato sexual não passa de um ato de violência? Quantas mulheres, mesmo agora, enquanto escrevo esse post, podem estar sendo submetidas à força, seviciadas, estupradas, à mercê da brutalidade de homens?

O mundo perdeu as estribeiras. Na índia os estupros são coletivos. Seis, oito, dez homens penetram uma mesma mulher, dentro de trens, em lugares isolados. Oito, dez homens penetram uma mulher e no final ainda vem uma líder política dizer no parlamento que ela foi a culpada!

Asha Mirje, é esse o nome dela. Foi ao parlamento indiano para dizer, na última terça-feira, que com suas roupas, suas manias de andarem sozinhas à noite, as mulheres convidam ao estupro.

Se eu não estivesse escrevendo essas linhas estaria gritando. Gritando de raiva, de indignação.

Quando será que o estado vai proteger suas mulheres? Quando será que o desequilíbrio de certos homens deixará de transformar seus pênis em armas? Quando será que as mulheres poderão ter mesmo direitos iguais, de vestirem-se como queiram, de andarem livres à horas tardias, sem que isso sirva de passaporte ao molestamento, ao estupro, à violência?

Asha Mirje, deixe o parlamento. Guarde seu ativismo machista. Arregace a saia, a burca ou o que lá use e defenda as mulheres do mundo dessa ignomínia que mancha de sangue e de horror as suas vidas. Asha Mirje, Sabe quantas meninas, jovens, mulheres idosas foram estupradas esse ano no mundo? Se não puder gritar contra essa hediondez, Asha Mirje,, fique calada!

Conselhinhos Light

Hoje ele fica comigo, amanhã com você. Não foi sempre assim nos países árabes? Agora importamos comportamentos, tênis, mulheres, homens, histórias, formas de amor.

O meu amor é assim, maroto, descomprometido, solidário, ou seria socialista? Leve como algodão doce. Mandei agorinha um sms, ele nem respondeu. Se calhar, está com a Moura. Ou seria a Moira?

Mais tarde encapsula tudo o que não quer me dizer num pps, envia com cópia oculta,pendura um recado no meu wahtsapp, de que espera me ver no bar Antonius.

Não faça drama. Vá ao dentista. Peça pra ele reparar sua ponte. Que tal a massagem afro do Emerson, no cabelereiro?

Eu já sei onde eu vou. Surfar na net. Amor higiênico, limpo de humores. Brincar de adolescente punk,dizer aos velhos amores dos outros, tudo o que eu já disse a ele.

Não faça drama, a não ser que haja um papel pra você na novela das seis, ou então uma ponta no Sem limites de 2020.Aprenda com o filósofo da ocasião, que quando ele estiver com você, estará só com você.Só com você  e ponto. O que é que você quer mais?

Execute o plano B. Aquele que você leu no pps dele.Seja leve e suave como as folhas de verão. Encolha sua barriguinha de chopp junto com aquela felicidade que previa dois numa cama só.Seja soft, ecologicamente correta. Faça como os ingleses. Corra dos perigos de dormir acompanhada nesses tempos de gripe suína. Invente um mantra,um visual novo para o seu cabelo rebelde, um jeito diferente de erguer as sombrancelhas     Vá viver amor e sexo com Fernanda Lima e entenda porque os homens peludinhos estão desaparecendo.

 

Nossas Frases Prediletas

Quando o dia de uma garota 5.0 começa, mesmo sem falar, ela tem algumas frases prediletas. 1. na hora do banho. ˜[é muito gentil essa carícia do meu óleo de banho da Loccitane!
2. Na hora do café. Não posso viver sem… a minha fatia de mamão.
3. Na hora de ir pro trabalho. Não gema no táxi, é feio de mais, e denuncia o estado dos seus ossos!
4. Na hora do almoço. Adoro essa rotina de frango grelhado, salada e legumes!
6. Na hora do lanche. Seu maior sacrifício, comer as três castanhas recomendadas.
7. Na hora do jantar. Garota 5.0 não pratica esse verbo nem conhece os seus gases.
8. Na hora de dormir.
Corpo lavado, alma quase saindo para uma vib no planeta dos sonhos, esse que é o território da sua liberdade!

Insônia

Não lute contra essa sua visita noturna. Ela vem de dentro, como uma clareira, estende-se sobre a sua noite como um lençol amarelo, como se ainda guardasse a aridez de alguma planta onde esteve estendido, secando suas horas. Permita que ela fique, escute todas as suas falas, o seu script meio esquizofrênico, zaping sobre todos os temas nos quais você daria tudo para não pensar agora. Não se revolte. Tenha paciência com ela. Drible a sua insônia, escutando o vago bulício da madrugada viva, sentindo na pele a brisa suave, cheirando às flores do jardim da casa vizinha.Permita-se ficar acordada, respire fundo, invente uma canção. E saiba disso com todas as letras: Estar insone é uma coisa que só acontece com os que estão vivos.

Desaprender…

Tanto tempo sem vir aqui, garota 5.0, quase desaprendi como se faz isto. Fiquei doente. Garganta irritada, dor de barriga, regime de torrada e banana, emagrecimento forçado. talvez seja o corpo pedindo tempo, pedindo desaceleração. Passou a febre e eu fui ler Alice Munro. Que escritora magistral! Vo escrever sobre a sua obra em minha coluna para o Jornal A União. A vocês, queridas leitoras, conto que estou de repouso,e queria que esse domingo fosse eterno.

No meio da Cozinha havia uma Pedra

Havia uma pedra no meio da cozinha, no meio da cozinha, havia uma pedra. Uma pedra com nome e sobrenome, dinheiro no banco e… endereço não revelado. Lição do dia: Nunca pague a um marceneiro, nem que ele lhe chame de doutora. Nunca pague a um marceneiro antes que ele aperte o último parafuso. Se você pagar antes, terá problemas de engenharia, de matemática, e, sobretudo, graves problemas de nutrição e alimentação. A cozinha dos meus sonhos virou “a cozinha dos meus pesadelos”. Paguei a senhor das tábuas e ele sumiu! Agora terei de trocar o granito da área seca, para acomodar o forno. E terei de fazer aliança com outro marceneiro, para acabar o serviço do caloteiro.Mas, prometo a você, garota 5.0, que quando esta cozinha estiver pronta, partilharei mais receitas, mais lições, mais conselhos loucos, arrancados a fórceps, na dura faina de aprender com os erros.

Zastrás

Cortinas fechadas, livros fechados, mas, antes de fechar os olhos, dizer uma coisinha a você, garota 5.0. O mundo dá voltas. Coisas que parecem inconciliáveis, resolvem-se quando você menos espera. E, antes de fechar os olhos, sorria intimamente dos seus dramas todos. Gargalhe para dentro de si, ajeite-se na sua cama confortável e vá dormir o sono das guerreiras, das que ora correm com os lobos, ora vão bailar com as borboletas.