Quando menino, vivia procurando lugares de eco, onde pudesse projetar a voz e cantar. Cresceu mais, assaltou horas livres no piano, e logo estava ensaiando os primeiros acompanhamentos para as músicas que cantava.
Jovem, participou de festivais e sempre ficava entre os primeiros. A música era sua grande paixão, e vinha poesia junto, simples, romântica, de protesto, até poesia regional, no melhor estilo, para seus forrós de raiz.
Tinha nascido com ritmo, com afinação, e esses dois ingredientes foram se aprimorando, e eis que já se vão completados trinta e cinco anos de carreira na música.
Uma carreira discreta, com um grupo seleto de fãs. Todos os seus amigos do Instituto dos Cegos Adalgisa Cunha, casa que guarda talvez, o maior arsenal das memórias das suas canções, amigos múltiplos que foi fazendo ao longo da vida, Seus amigos do grupo Acorde, para o qual escreveu um dos mais belos cantos espiritualistas: “Um Dia Todos Nós Seremos Anjos”, com uma melodia belíssima, uma espécie de sonata de otimismo e generosidade, para os duros tempos que estamos vivendo.
Beto Melo é seu nome musical, Mas, José, esse carpinteiro da Melodia, Alberto, segundo nome do seu batismo, aberto à solidariedade, à amizade, pronto pra apoiar projetos musicais dos que vão lhe procurar. Já regeu o coral da Associação Paraibana de Cegos, já plantou sementes musicais em corais no interior do estado. E canta, canta muito. E conhece quase todos os gêneros musicais, e experimenta compor em todos os ritmos, como uma espécie de enciclopédia sonora.
O show em comemoração aos 35 anos de carreira aconteceu na última terça-feira, na Usina da Energisa. Beto Melo foi o rei do palco, e demonstrou de maneira magistral, a firmeza da voz, o ritmo, a afinação desse cantar único.
Assisti da plateia, com lágrimas teimosas no canto do olho e um sorriso do tamanho do mundo. Vibrei como quando éramos amigos de infância, compondo juntos nossas primeiras canções com rimas previsíveis e sempre encerradas em dó maior.
O show de Beto Melo foi um culto à amizade, à diversidade, sobretudo foi um poema vivo da sua história, que terá sempre um tom de doçura e de generosidade.
Depois do abraço, trouxe para a crônica de hoje essa certeza: A canção mais bonita sempre sairá da sua boca.
(Este post foi publicado em minha coluna impressa do Jornal A União, do dia 17 de novembro)