A União, Um Jornal para todos os Leitores

As redações de jornais impressos no Brasil são pucas, e em geral estão silenciosas, porque os computadores velozes extinguiram de vez o batuque das máquinas de escrever. Nas dependências do Jornal A União, porém, desde o início de outubro, o silêncio da redação convive agora com um barulho diferente. Numa sala especial, uma máquina servida por um computador, vomita em sua bandeja larga, folhas e folhas de papel.

O que sai dessa máquina não pode ser lido por qualquer pessoa.  Os maços e maços de papel que saem dessa impressora só podem ser decifrados por leitores especiais de jornais. Leitores cegos, que lêm braille, decodificando as notícias com a polpa sensível do dedo indicador.

 

O Jornal A União, em parceria com a Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência, Funade, retomou seu projeto de distribuição de um resumo mensal do periódico em braille, para centenas de pessoas cegas de toda a Paraíba.

O projeto, iniciado a pouco mais de três anos, sofreu algumas interrupções, mas agora ganha força com a aquisição de uma impressora braille de médio porte. A primeira edição chegada nesse mês de outubro às mãos dos leitores especiais de jornais, já foi feita na nova redação braille, implantada dentro das dependências de A União.

Trata-se de um projeto de grande relevância. Possibilitar que pessoas cegas tomem conhecimento do que circula no jornal, ainda que em modo resumo, envolve pensar essas pessoas como cidadãos,  envolve incluí-las de fato em políticas de governo.

O trabalho de levar o jornal em braille para as casas das pessoas cegas requer uma força-tarefa e uma rotina especializadas. . Ao lado de Nilberlândio Lucena, Otto xxx, récem formado em radialismo pela UFPB, e que tem deficiência visual, trabalham na escolha e seleção das matérias que serão impressas. Um conselho editorial avalia o conjunto das matérias escolhidas, e depois é ligar a impressora braille, para a impressão e encadernação.

Leitores cegos de jornais ainda são raros. Os jornais online nem sempre disponibilizam os conteúdos com acessibilidade.  Ler em braille, no conforto da casa, notícias de A União que possam ser consumidas pela atualidade da informação é o lema do projeto. Nada de informação que não tem mais validade. O resumo braille divulga projetos importantes do governo, mas não só. Traz notícias de serviço, de política, variedades e cultura. Na redação especial preparada para esse trabalho, o ruído da impressora braille é abafado por câmaras acústicas,e, num ritmo frenético, centenas de páginas são preparadas. Por trás desse processo visível de criar relevo pontilhado no papel, há uma relevante lição de cidadania a ser aprendida.

O gesto de criar letras que possam ser decifradas com o toque dos dedos já tem quase duzentos anos. No país todo, não se sabe de um jornal diário que esteja possibilitando sua leitura por pessoas cegas. O projeto do Jornal A Uniãocumpre esse feito de maneira inédita, permitindo que das suas oficinas, publique-se um jornal para todos os leitores.