Copa do Mundo, Jornalismo e Muito Mais
Ruminando aqui os episódios dessa relação umbilical entre a cobertura jornalística e a Copa do Mundo, Penso numa coisa óbvia para dizer, uma coisa óbvia, mas ao mesmo tempo, profunda: Jornalista é humano, assim, jornalista erra.
Sim, o jornalista erra quase todos os dias, e, o seu erro torna-se público, invade as casas, retumba nas redes sociais, ganha clips no youtube, vira temas de enquetes trepidantes.
O mico do momento tem sido o episódio que reuniu numa mesma matéria em grandes veículos de comunicação, um jornalista, um sósia de Felipão e uma entrevista que todo repórter queria ter feito. Polêmicas à parte, que o fato já foi digerido, liquidificado, esmiunçado até a exaustão, a pergunta de fundo que pode ser feita é: Até quando o erro jornalístico vai presidir uma cobertura inicial, para depois ser retificado?
Porque é exatamente isto o que tem ocorrido com a imprensa brasileira. Nossa mídia erra desmedidamente, para depois retificar-se. Foi assim com as manifestações públicas em 2013, foi assim com a cobertura tendencialmente negativa dos preparativos para a Copa do Mundo 2014.
Inverteram-se completamente as lógicas da produção da notícia. Se antes a máxima sabida por todos era, apurar, checar, ouvir novas fontes, certificar-se, vivemos um paradigma em que primeiro se publicam as primeiras impressões, e tenta-se fazer com que as mesmas ganhem força de verdade, até quando não mais possam se sustentar.
Jornalismo de primeiras impressões, não precisamos da mídia para ter um produto tão perecível e tão abundante. Esse tipo de produção já pulula na blogosfera e nas redes sociais. Da mídia espera-se uma cobertura isenta, plural, credível, da mídia espera-se o aprofundamento, calcado sobretudo na investigação, na apuração.
O jornalismo brasileiro, de forma competente e sistemática, vendeu a Copa como caos, como catástrofe. Divulgou em todos os canais, a notícia da copa lixo, provavelmente sintonizado com o grupo político dos insatisfeitos com os atuais governantes do país.
Às vésperas do mundial, o jornalismo teve que prender as rédeas da lamentação, voltar atrás e retificar sua cobertura. Ter que dizer, em alto e bom microfone, em flashs e fotos, que a Copa tinha dado certo, uma crônica estranha, contradizendo a cobertura de ontem. Senão vejam a cobertura do domingo, véspera do terceiro jogo do Brasil: O povo cantando nos estádios, Hino Nacional à Capela, e a rede globo propondo enquete para inventar um canto de guerra para a nossa torcida.
A Copa do Mundo deu certo, e a mídia, a contragosto, tem tido que retificar sua cobertura desastrosa. Um erro porém, tem sido cometido por todos os que fazem a Copa e falam dela. A Copa deu certo, mas, custou, além dos bilhões investidos nos estádios reclamados pela mídia, custou as mortes de operários sobretudo na arena do Coríntians. Que nos lembremos desses torcedores, que façamos gols em sua homenagem, que desfiemos o hino nacional pensando neles.
(Este post será publicado amanhã no impresso Jornal a União)