As vezes me pego a escrever de pronto, esparramando as palavras na área de edição, sem me preocupar com bordas, partes superior e inferior, tudo direto, como numa conversa de mesa de depois do almoço, e nem almocei ainda. O domingo estira-se como um gato preguiçoso na minha varanda, a #Alexa toca músicas contemporâneas, daquelas lisas, alegres, feito cerveja gelada. Eu aqui bebo um pouco de vinho, inspirada por esse sentimento bom de domingo ainda em meio, alegria que se a gente não tiver cuidado, depois resvala para um tédio de cortar de faca. Sou por natureza essa pessoa dos extremos. Ora estou tão alegre que queria gritar. Ora a tristeza me invade, e sinto as dores do mundo em mim mesma, como alicates a percutirem meus músculos, pedindo às minhas céluas que se esforcem para não morrer. Bem vindo ao planeta da canceriana. /amo o mundo como se ele fosse uma coisa pequena que eu pudesse guardar, e depois me dou conta, o mundo é um oceano tão grande e tão desmesuradamente maravilhoso. Parece que somos nós que estragamos tudo. Mas depois vejo pessoas tentando replantar a floresta, e sinto tanto amor por essas mãos, por esse esforço… Não, eu não uso bem reticências. Elas imitam um silêncio, um mistério que eu acho que a palavra escrita não decifra. O mistério é um ser apaixonante e fugidio. O mistério é o intervalo, o silêncio sem reticências, o mistério é aquilo que ainda não sabemos. A música toca assim: “Eu não tenho outra opção”. Nem eu. Não tenho opção, senão aquela de esgrimir o mistério com a palavra própria que nós lhe demos. O mistério. E uma voz que não sei de onde vem, e sem nenhuma autoridade pra isso me diz pra parar. Parar. Voltar à superfície. Experimentar o meio do domingo, essa alegria tola e boa, antes da faca, antes do tédio.