O Príncipe e O Metalúrgico

Era uma vez, uma velha rainha chamada República, que vivia com seus dois filhos numa casa grande, sendo o mais velho deles conhecido como O Príncipe, enquanto que o mais novo era conhecido como Metalúrgico.

A rainha distribuiu aos dois, em proporções semelhantes, doses de coragem e de vaidade, e ao Príncipe, por ser mais velho, entregou o governo da casa grande por oito anos.

Tendo estudado a fundo, tanto nos Estados Unidos, na Inglaterra e França, os mistérios das sociedades latino americanas, tendo mesmo elaborado a sua Teoria da Dependência, o príncipe governou a casa grande em sintonia com o capital internacional, e, internamente, em íntima ligação com a rede de televisão global. Gabava-se de ter aberto as portas do reino da República para o neoliberalismo, vendeu companhias de aço e de ferro, privatizou a telefonia, comprou sua reeleição, mas, espertamente, tinha a seu serviço, o engavetador geral da República, que não permitia que sua mãe, tampouco os outros súditos, ficassem sabendo das suas peripécias.

Finalmente chegou a vez da República entregar ao Metalúrgico o mando da casa grande. Metalúrgico era muito diferente do Príncipe. Se alfabetizara em um grupo escolar do interior do país, não falava inglês, tinha tido por longos anos, a companhia da fome, tinha perdido um dedo numa indústria do ABC, mas foi avante, organizou um partido político e começou a sonhar com um país mais justo para todos.

Pois bem, sua mãe, a República, entregou-lhe o governo da Casa Grande também por oito anos, e Metalúrgico disse que sua primeira tarefa seria cuidar da fome que ele tinha de acabar com a fome dos seus súditos. À socapa, o príncipe sorria do irmão pobre. De fato, o reino da República era habitado por dragões achacadores, e, os donos do capital, queriam mais capital, pelo que Metalúrgico resolveu aliar-se a todos eles.

Minimizou os efeitos da fome, e, por não ter um diploma universitário, como seu irmão, construiu mais escolas técnicas, universidades, onde acolheu negros, pessoas com deficiência, e sobretudo os mais pobres.

E fez mais, o humilde Metalúrgico. Quando chegou ao fim o seu reinado de oito anos, quis que uma mulher o substituísse no comando da casa grande, e assim foi feito.

O Príncipe não gostou do que via. Então era o Metalúrgico que ganhava fama internacional, elogios públicos do presidente dos Eua, e ainda por cima ganhava mais dinheiro do que ele em palestras pelo mundo a fora?

O príncipe queria de novo o mando da casa grande, mas, apesar de contar com apoio da rede global de tevê, que todos os anos criava uma pauta única contra Metalúrgico e sua sucessora, não conseguia mais os votos necessários para recolher ao seu próprio cofre a chave da República.

Foi então que a rede global de tevê deu início à Guerra Midiática contra Metalúrgico. Tinha expertise em manter e derrubar governantes, apoiara os mais de vinte anos de ditadura, derrubaria o Metalúrgico com edições diárias da Pauta única. Metalúrgico faz a regra do jogo, é o líder maior da quadrilha que se instalou na República. Era esse o script, pelo qual trabalhava o exército da rede global de tevê. Assim foi feito.

Essa estória não teve ainda nenhum final feliz. Metalúrgico é tão vaidoso quanto o Príncipe, mas, a sua vaidade radica nas coisas que fez. Tirou a república do mapa da fome, democratizou a educação, fortaleceu as instituições de fiscalização e de controle, desfez a dependência com o FMI, e, ergueu as cabeças dos seus súditos pobres. Esse é o grande pecado que o Príncipe não perdoa.