Um Presidente Decorativo

A palavra decorativo poderia ganhar novo verbete. Se formos seguir os cânones do dicionário, decorativo significa  adjetivação para embelezamento, que agrada aos olhos, mas se formos ao outro extremo, encontraremos a definição de sem nenhuma importância ou peso.

Era assim que se sentia Michel Temer, quando ocupava o cargo de vice presidente no governo Dilma Rousseff. O vice presidente decorativo, que segundo se queixava, não era ouvido nem convocado, utilizou-se do cargo para negociar, organizar e apoiar, ainda que na surdina o impeachment da presidenta eleita, sendo, graças ao apoio do deputado Eduardo Cunha e da sua bancada, exitoso nesse processo.

Consumado o impeachment, e, respaldado pela Constituição, Temer sentou-se à mesa da presidência, mas logo percebeu-se que ele ali está também como um presidente decorativo. Assumiu o cargo para encenar e dar envergadura a um dos argumentos que mais se pronunciou nos últimos tempos: As instituições brasileiras são sólidas e estão funcionando muito bem.

Mas a quem interessa um presidente decorativo? Na atualidade, o presidente decorativo do Brasil interessa ao mercado, ao grande empresariado, às elites brasileiras, visto que na verdade é esse mercado quem agora governa, empreende, dita as regras do jogo e as executa, tudo sob a égide de um jogo de faz-de-conta, onde se finge que o presidente governa, e dá curso ao programa do seu partido, “Ponte para o Futuro”, com apoio do Congresso e dos outros poderes.

Não estranhem se não der em nada a denúncia de Joesley Batista, que aliás já foi arquivada pela CCJ da Cãmara dos Deputados. Ao longo dos próximos meses, pequenas rusgas contra o presidente farão parte das manchetes midiáticas, mas terão pouco ou nenhum acolhimento no parlamento. Suspeito que Tener ficará no cargo até o final do mandato, desenvolvendo suas mesóclises, suas adverbialidades, seus jantares palacianos onde agencia o velho “toma lá dá cá”, enquanto seus ministros cochilam e a sociedade cria suas mêmis nas redes sociais.

Um presidente decorativo serve perfeitamente a esse momento, em que, na surdina, ou claramente, o mercado impõe ao estado suas medidas reformistas. Um presidente decorativo serve ainda melhor ao fingimento da grande mídia, que conhecia muito bem o perfil dos políticos brasileiros, mas deu curso à fábula da “quadrilha petista” o quanto pôde, empreendeu e exaltou o “plano Michel”, e agora finge espanto pelas gafes do presidente, pela sua impopularidade, fingindo que deseja a sua saída do poder.

Todos fingem, enquanto o país caminha para a sua derrocada, para o banimento e o esquecimento das poucas conquistas alcançadas nos últimos treze anos.

O presidente decorativo finge que governa, e, banhando-se no caldo da sua própria vaidade, entrega o país à voracidade dos grandes tubarões.