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Falta de Notícia Ou Falta de Vergonha?

Sempre soubemos que o jornalismo da rede Globo, seja por imposição da empresa, seja por vocação dos profissionais, está plenamente sintonizado com os interesses do capital especulativo e neoliberal. Na atual conjuntura, âncoras de tv vêm travando uma verdadeira queda de braço com declarações do presidente Lula, que por sua vez, vem fazendo duras críticas a temas como a independência do Banco Central e as altas taxas de juros impostas ao país.

O presidente, cada vez que pode, traz à baila os dois temas. Os jornalistas, imediatamente, com suas tesouras  de recortar os acontecimentos, passam a explorar essas falas, dentro daquela moldura do bem e do mal, sob a máxima: O mercado está certo e o presidente não ajuda, com suas falas.

Os comentários não têm qualquer substância, nenhum aprofundamento. Apenas ratificam os interesses da mídia e pavimentam o velho terreno da crítica ao governo de esquerda eleito.

Mas cabe uma pergunta: Por que o presidente Lula tem falado tanto sobre esses dois temas? Creio que com essa insistência, Lula passa um recado importante à rede Globo: Lula insiste para dizer que como presidente da república, terá liberdade de pensamento e de opinião. Mais que isso: não deixará de enfrentar os duros temas que assombram o país e que impedem o crescimento da sua economia.

Mas essa guerra de discursos tem um propósito mais relevante: Lula diz ao país que um governo social democrata vai sim enfrentar o tema das taxas de juros e vai balizar até onde pode ir a independência do Banco Central. Um governo social democrata vai governar sobretudo para os mais pobres, os mais vulneráveis, chamando para esta missão, o empresariado, o parlamento, o “mercado” brasileiro especulativo, poucos milionários situados na Faria Lima, que combinam o sobe e desce das bolsas, com ameaças e recados que a mídia não apenas divulga como defende religiosamente.

Falta de notícia ou falta de vergonha? A mídia, e mais particularmente a rede Globo, tema desse post, ao longo da sua trajetória de mais de 50 anos, vem traçando sua linha de defesa do mercado, do jornalismo dedicado à voz das autoridades, divorciando-se irremediavelmente dos interesses da sociedade, dá defesa dos mais pobres e mais vulneráveis. Essa linha reta, gerando uma pauta monotemática de crítica aos governos de esquerda, já engendrou, somente para falarmos de episódios recentes, o golpe 2013/2016, e, o nefasto período Bolsonaro, que empurrou o país para a barbárie, o terrorismo e a colocação do Brasil , de novo, no mapa da fome.

Não se trata, pois, de falta de notícia. Trata-se sim, do enquadramento em uma notícia única, num esforço para recolocar o país nos trilhos do mercado e do neoliberalismo, no desejo invocado todos os dias, por uma terceira via, capaz de harmonizar-se com o diapasão midiático: política de juros altos, independência do BC, e tantos outros projetos defendidos por esta agenda infame.