Endereço, 67P/Churyumov-Gerasimenko. Localização, a uma distância de mais de trezentos milhões de quilômetros do planeta terra. É onde mora a mais de sete meses, o robô Philae,um dos módulos da sonda Rosseta, da Agência Espacial Europeia. A notícia de que ele reviveu e fez contato com aterra, na noite do último sábado, 13 de junho, é talvez uma das mais importantes para o século XXI, no campo da corrida espacial e das suas descobertas.
O robô havia sido deixado no cometa em novembro, mas, em sua aterrisagem, foi parar em um lugar pouco iluminado, um incidente lamentável, já que suas baterias estavam no fim e se autocarregariam através de painéis de energia solar. Mesmo assim, Philae ainda trabalhou por cerca de sessenta horas, falou com a terra por oitenta segundos, enviou mais de trezentos pacotes de dados, e hibernou.
Foram sete meses de sono profundo, mas, não se pode dizer que a nova casa de Philae seja um lugar ttranquilo. Safanões, explosões, erupções de grandes volumes de gazes, fizeram com que Philae chegasse mais perto do sol, e, num sábado à noite, em vez de ir à balada, o robô despertou e mandou um tweet, chamando todos ao trabalho.
Pronto, estava dada a notícia do dia, do mês, quem sabe, a notícia do século. Um robô não sofre de enxaqueca, não pede aumento de salário, e, desde que fique perto do sol, garantirá muito mais do que os doze mil lotes de informação que já acumulou em sua memória.
Um robô como Philae, com seu corpo compacto, do tamanho de uma máquina de lavar roupa, não pensa duas vezes sobre vírgulas, substantivos, sequer fica ponderando sobre a necessidade ou não de adjetivações.
Philae sabe usar o Twitter, mas não desperdiça tempo nem palavras. Philae trabalha, coletando imagens espetaculares para enviar à terra.
Philae não sente solidão nem saudade, tampouco suspende o ato de fotografar ou de escrever, por conta de um dilema ético.
Sou tentada em pensar no robô, como uma espécie de repórter cósmico,para quem furos de reportagens nunca serão problemas. A exploração espacial envolve um universo tão amplo, com acontecimentos tão complexos, que sempre terão um grande público fiel.
Sentado sobre o cometa, Philae vasculha o que poderíamos chamar de a “escrita” mais primitiva da história do universo. Como se viajássemos no tempo, porém, sem o impacto terrível de ultrapassarmos a gravidade, para irmos viver num lugar ao mesmo tempo belo e insólito. Philae fará isso por nós, e torço para que nos envie muitos e muitos furos da sua longa e fascinante reportagem.
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