O Presente de Sérgio Moro

Em sua última entrevista fornecida ao Jornal das Dez da Globo News, o então ministro da Justiça Sérgio Moro, indagado por Merval Pereira sobre o processo e a prisão do ex-presidente Lula deu a seguinte resposta: “O ex-presidente Lula faz parte do meu passado. Não pertence mais nem ao meu presente nem ao meu futuro! A afirmação, feita com ligeireza, como aliás, as falas do ministro na maior parte daquela entrevista, demonstram bem a natureza do presente vivido agora por ele.

De fato, Sérgio Moro agora pode abdicar com tranquilidade da rigidez dos discursos jurídicos. Pode esquecer as recomendações de somente falar nos autos, pode até assumir momentos de brincadeiras e piadas, e, se for conveniente, pode até deixar de lado convicções e crenças, para corroborar medidas completamente diversas daquelas que teve de protocolar, quando no exercício da sua carreira de juiz, e sobretudo com respeito ao processo do ex-presidente Lula.

Indagado por exemplo, em outras ocasiões, a respeito das denúncias do COAF, envolvendo Fabrício Queiroz, amigo do presidente Jair Bolsonaro e funcionário do então deputado estadual do Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro, agora senador da República, Sérgio Moro falou com muita ligeireza e nenhum compromisso sobre movimentações suspeitas de mais de um milhão de reais nas contas do Queiroz, assim como de dinheiro do mesmo que foi parar na conta da primeira dama, Michele Bolsonaro.

Ao tempo em que escrevo a coluna. Jornais, tvs e portais de notícias exploram um novo desdobramento do caso Queiroz. O agora senador Flávio Bolsonaro pede ao Supremo que o processo seja suspenso no MP do Rio e seja encaminhado ao STF, por conta do foro privilegiado do Senador.

Em seu plantão, diligentemente, o ministro Fux encaminhou o caso ao Ministro Marco Aurélio de Melo, que logo que retorne do recesso, a partir de fevereiro, julgará do foro privilegiado e da continuidade do processo.

Fico aqui pensando no presente vivido pelo ex-juiz Sérgio Moro. Pensando no esforço que ele teve de empreender, no seu passado recente de juiz, para encarcerar e manter na prisão o ex-presidente Lula. Pensando nas páginas e páginas da sentença que teve de escrever, no apoio que angariou, tanto na segunda instância quanto no Supremo, para manter suas decisões.

No passado recente, e pode-se dizer, em carreira meteórica, o juiz ganhou fama, poder e tornou-se celebridade. No presente, Sérgio Moro recebeu um super ministério, concentrando justiça e segurança, apto a combater corrupção, crimes do colarinho branco, desvios de reservas, tráfico de drogas, e muito mais. Como agirá o ministro no caso Queiroz, que se abeira perigosamente do palácio do Planalto, do senado da República e da vida pessoal do presidente?

Em sua última entrevista fornecida ao Jornal das Dez da Globo News, o então ministro da Justiça Sérgio Moro, indagado por Merval Pereira sobre o processo e a prisão do ex-presidente Lula deu a seguinte resposta: “O ex-presidente Lula faz parte do meu passado. Não pertence mais nem ao meu presente nem ao meu futuro! A afirmação, feita com ligeireza, como aliás, as falas do ministro na maior parte daquela entrevista, demonstram bem a natureza do presente vivido agora por ele.

De fato, Sérgio Moro agora pode abdicar com tranquilidade da rigidez dos discursos jurídicos. Pode esquecer as recomendações de somente falar nos autos, pode até assumir momentos de brincadeiras e piadas, e, se for conveniente, pode até deixar de lado convicções e crenças, para corroborar medidas completamente diversas daquelas que teve de protocolar, quando no exercício da sua carreira de juiz, e sobretudo com respeito ao processo do ex-presidente Lula.

Indagado por exemplo, em outras ocasiões, a respeito das denúncias do COAF, envolvendo Fabrício Queiroz, amigo do presidente Jair Bolsonaro e funcionário do então deputado estadual do Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro, agora senador da República, Sérgio Moro falou com muita ligeireza e nenhum compromisso sobre movimentações suspeitas de mais de um milhão de reais nas contas do Queiroz, assim como de dinheiro do mesmo que foi parar na conta da primeira dama, Michele Bolsonaro.

Ao tempo em que escrevo a coluna. Jornais, tvs e portais de notícias exploram um novo desdobramento do caso Queiroz. O agora senador Flávio Bolsonaro pede ao Supremo que o processo seja suspenso no MP do Rio e seja encaminhado ao STF, por conta do foro privilegiado do Senador.

Em seu plantão, diligentemente, o ministro Fux encaminhou o caso ao Ministro Marco Aurélio de Melo, que logo que retorne do recesso, a partir de fevereiro, julgará do foro privilegiado e da continuidade do processo.

Fico aqui pensando no presente vivido pelo ex-juiz Sérgio Moro. Pensando no esforço que ele teve de empreender, no seu passado recente de juiz, para encarcerar e manter na prisão o ex-presidente Lula. Pensando nas páginas e páginas da sentença que teve de escrever, no apoio que angariou, tanto na segunda instância quanto no Supremo, para manter suas decisões.

No passado recente, e pode-se dizer, em carreira meteórica, o juiz ganhou fama, poder e tornou-se celebridade. No presente, Sérgio Moro recebeu um super ministério, concentrando justiça e segurança, apto a combater corrupção, crimes do colarinho branco, desvios de reservas, tráfico de drogas, e muito mais. Como agirá o ministro no caso Queiroz, que se abeira perigosamente do palácio do Planalto, do senado da República e da vida pessoal do presidente?

Uma Lenda para o Novo Mundo

Muitos de nós estamos perplexos, impressionados de como pudemos chegar até aqui, no mundo rosa/azul da ministra Damares, um mundo do ministro Vélez, inimigo contumaz do marxismo cultural, um mundo capitaneado pelo presidente Jair Bolsonaro, que incita seus apoiadores ao extermínio da bandeira vermelha, nem que para isso seja necessário manchar a camisa de sangue.

E de que maneira chegamos até aqui? Tenho certeza de que esse quixotesco passo se deu por conta de uma narrativa. Sim, porque para se erguer uma multidão, para se fazer com que essa multidão vibre numa mesma sinfonia, para que se possa fazer com que essa multidão ecoe o mesmo brado, há que se ter arranjado as sílabas de uma narrativa, há que se ter inculcado nas cabeças dessa multidão, a síntese principal desse arrazoado.

Os veios dessa narrativa são simples, e já foram assacados em outras épocas históricas, tanto aqui no Brasil como em outras partes do mundo. O arranjo envolve a construção de um inimigo, o engendramento da sua derrocada, a forja dos heróis que darão sua vida e seu sangue para o seu extermínio.

No Brasil, o inimigo a ser combatido são os governos do PT, e, na proa do seu legado, a pessoa do ex-presidente Lula. A narrativa de combate foi sendo gestada desde o princípio do primeiro mandato do ex-presidente em 2003, e foi crescendo, ganhando contornos importantes e lapidares, à força de uma conjunção que envolveu a grande mídia comercial, o parlamento e o poder judiciário.

O inimigo foi vestido com as cores da corrupção, e, nas ruas e praças do país, ganhou bonecos infláveis vestidos de presidiários, para gáudio e urras de multidões convocadas pela própria mídia em seus horários nobres. Em 2014, a narrativa ganhava um novo herói, saído das hostes da justiça, empunhando a lava jato como a grande usina capaz de triturar o que era conhecido como o “quadrilhão do PT”. O modus operandi deu certo.

Levou algum tempo até que chegássemos aqui. Os detentores da narrativa de combate organizaram-se, e, em 2016, depunham Dilma Rousseff do palácio do planalto. Abriam as porteiras para que se estabelecesse um novo governo interino, apto a combater a corrupção e erguer sua ponte para o futuro. Instalado o processo eleitoral, encarcerado o ex-presidente cujo capital político era uma ameaça concreta, limpou-se a pista para que a narrativa pudesse apresentar-se em toda a sua limpidez.

Cada uma das candidaturas buscou tirar proveito da narrativa. Mas nenhuma conseguiu empunhá-la com mais maestria do que a candidatura de Jair Bolsonaro.

Ele, esse cidadão ordinário, no dizer de Eliane Brum, foi capaz de tocar nas cordas mais íntimas da parcela conservadora de nossa sociedade. Ele conseguiu aglutinar em torno de si, as outras vozes que ecoavam esses ditames: combate ao inimigo, que ora chamam de PT, ora chamam de socialismo, ora chamam de ideologia.

Chegamos até aqui, mas há uma profunda sede de vingança dos detentores dessa narrativa nefasta. Chegamos até aqui, mas ainda poderemos afundar muito mais, num novo modo de combate que apenas está começando.

 

(Este post foi publicado em minha coluna impressa de hoje do Jornal #AUniao)