Forte, curto, mas, delicioso, feito um café expresso. E foi totalmente produzido aqui em João pessoa, reunindo a maestria, a experiência e a novidade de juntar, como num coquetel, cérebros, arte, simplicidade e complexidade, em um belo material.
Estou falando do cd “Quarta Capa”, lançado no último dia 13 de janeiro, na Usina da Energisa, reunindo a poesia de Lau Siqueira, a arte musical de Paulo Ró, a voz surpreendentemente madura e original de Dida Vieira.
O disco tinha todos os ingredientes pra dar certo, e deu. O cd é desconcertantemente belo, seja pelas explorações exóticas das sonoridades de Paulo Ró, seja pela poesia ora cortante, ora íntima, ora casual de Lau Siqueira, seja pelos arranjos magistrais, ao mesmo tempo despretensiosos e sofisticados naquela simplicidade que os idealizadores buscaram imprimir ao trabalho.
Antes do show, já tinha escutado o disco, que minha filha Mayra Siqueira pôs pra tocar, enquanto viajávamos pela serra paraibana. O trabalho deflagrou em mim, um diálogo íntimo, espécie de caleidoscópio, em que a mescla da música com as metáforas poéticas, no momento mesmo da audição, criavam aberturas para onde o pensar organizado se desfazia em pura fruição, em contemplação extasiada da bela voz de Dida Vieira, alargando os poemas de Lau Siqueira, com o misto de força, leveza e simplicidade que conformam a criação musical de Paulo Ró.
O disco foi todo produzido aqui, pelo estúdio Peixe Boi, e não deixou nada a dever às grandes produções nacionais. Cada música rebenta e se entrega como um presente aos ouvidos, ao intelecto, ao prazer da contemplação pura e simples.
O disco confirma a máxima dita na primeira música: “O poema é sempre um espetáculo um pouco mais denso”, reverberando nessas sonoridades buriladas na paciência e no cinzel de Paulo Ró, ecoadas em seus belos arranjos, percutidas pela voz de Dida.
O disco todo é curto, mas prolonga-se na alma da gente como se fora uma bebida exótica, com seus sabores de “magia das poções, diluída no oco das coisas”.
Um disco para se ouvir com alegria, com calma, um disco para deixar tocar, enquanto se viaja, enquanto se prepara um café, ou mesmo enquanto se corre na praia, deixando que as sonoridades surpreendentes de Paulo Ró façam dueto com o ir e vir das ondas de Tambaú.
Escute o disco. Você se surpreenderá com a arte de se encaixar poesia minimalista em música, e deixar que o casamento se faça, na arte da escuta. “Quarta Capa”, esse “pequeno pássaro pousado nas crinas da manhã”, é mais um presente que a Paraíba ganha dos seus músicos, dos seus poetas, dos seus intérpretes. E se você me perguntar, – qual a música que eu mais gostei, eu lhe digo, aquela que estou cantando agora, enquanto escrevo: “Passo pelo mundo, ancorado numa coragem, que desconheço. Sei lá de que lado está o meu avesso.
Joana,
Li com muito carinho esta tua descrição do CD e, fiquei bastante curiosa. Gostaria de saber como faço para adquiri-lo.
Lu, querida, vou pedir informe sobre isso ao compositor Lau siqueira e te digo. beijos!
GOSTEI. BOM MESMO. ABRAÇOS…