“São Todas Putas”!

A frase e suas exclamações, estava em um adesivo, circulando hoje, em um dos carros do trânsito de João Pessoa. Outros slogans circulam por aí: “Comível, nojenta, estuprável, frígida, puta”!

O mais chocante é que eles não vêm dos pés sujos da cidade, ou mesmo das frases de caminhão. Aparecem nos locais onde os cidadãos e cidadãs deveriam ser respeitados, e, saem com facilidade das bocas daqueles que pleiteiam os cargos máximos no mundo.

A onda de misoginia incorporou-se à política, e, trava o cotidiano de mulheres e meninas, que, vítimas de violência, ainda correm o risco de serem julgadas como culpadas. Culpadas do que? De serem mulheres em um mundo em que os políticos dizem em alto e bom som, “Eu só não te estupro porque você é feia”.

Culpadas em um mundo em que parlamentares ficam impunes de acusação de estupro real, mas amealham provas contra a vítima, respaldados muitas vezes pela cumplicidade da polícia.

Três vezes culpadas em um mundo onde um candidato ao cargo global mais importante da política, a presidência dos Estados Unidos da América, chama a sua oponente mulher de nojenta e tem um passado recheado do cinismo e da moral mais torpe em relação às mulheres e ao que ele sempre fez com elas, arrazoado digno de uma pornô chanchada, mas, infelizmente é parte volumosa do seu currículo imoral.

A propósito do último debate eleitoral dos Estados Unidos, exibido ontem em canal fechado da tv brasileira, assisti constrangida à morte da própria política. Senti na própria pele da minha alma, a dor de estar habitando os escombros de um mundo onde já não há sinais de ética, respeito humano, luta pela defesa do planeta, do ambiente, das culturas sustentáveis.

A política, no mundo todo, virou uma rinha de galos, em que políticos fracos exercitam frases ensaiadas para o espetáculo telenovelesco que a mídia exibe em tempo real, para depois ecoar numa edição melhorada, a súmula das “melhores partes”.

A política mundial vive o seu pior momento, enquanto os dilemas mundiais seguem intocados, por interesses do consumo e da propriedade e uma ganância exacerbada pelo poder político.

Nessa escalada, são os homens que dão as cartas. Dos mais importantes aos mais humildes, bradam em alto e bom som, “são todas putas, frígidas, nojentas, feias, estupráveis”, e, se unem em torcida verde e amarela, como no episódio em que jovens brancos, de classe média alta, mandaram a presidenta dilma Rousseff tomar no cu em transmissão televisiva, em rede nacional.

A política mundial continua sendo um negócio de homens, ricos, brancos e cristãos. Só falta instituírem nos dicionários, o sinônimo para ser mulher: Puta.

 

 

O Diapasão Midiático

 

A notícia da semana gira em torno da prisão do ex-deputado Eduardo Cunha. A narrativa que ganha o mundo, porém, exibe a um telespectador mais atento, os mecanismos de uma mídia volúvel, superficial, telenovelesca, interessada em ficar bem diante da sua débil audiência, ficar bem em qualquer situação.

Vivemos em meio aos escombros de um país que a própria mídia ajudou a construir. A grande imprensa trabalhou ativamente em favor da candidatura do então deputado eduardo Cunha à presidência da Câmara dos Deputados. Festejou a derrota do candidato petista, e, com a força do presidente eleito, realizou a louvação cotidiana da necessidade do impeachment.

Com frieza e determinação, Eduardo Cunha deu curso ao processo, garantindo inclusive cobertura em horário nobre, determinando a última sessão de votação para um domingo, 17 de abril.

A grande narrativa da época, aliás, recorde de publicização midiática nos últimos cinco anos, era a de que o Partido dos Trabalhadores precisava ser extirpado da cena política, por ter se constituído como uma quadrilha, em assalto aos recursos públicos, tendo protagonizado os maiores escândalos de corrupção da cena política do país.

Cumpria-se assim, um dos primeiros princípios do diapasão midiático: Se não aparece na mídia, não é escândalo, não há corrupção. Ignoraram-se outros escândalos, a exemplo do Panamá Papers, as inquietantes denúncias das obras do metrô paulista, o escândalo conhecido como “mensalão de Minas”. Inculcou-se na mente da débil audiência, a ideia do partido corrupto, forjaram-se os ícones do Lula presidiário, da Dilma enforcada, e, em contrapartida, a sinfonia do país novo, limpo, de gente trabalhadora e honesta.

Consciente da memória curta da sua débil audiência, a grande mídia cumpre agora, o segundo princípio do seu diapasão: A mídia sempre ficará por cima e terá a última palavra, sempre ficará com o melhor ângulo, na cobertura da informação. Menosprezou as denúncias do Partido dos Trabalhadores, de que seus líderes estavam sendo vítimas de uma perseguição seletiva, reforçada pela própria mídia. Nesse episódio da prisão de Eduardo Cunha, a mídia de novo exibe como narrativa central, a ideia de que perde força a hipótese do PT, de que está sofrendo perseguição política.

Na verdade, o que flagrantemente se desmantelou, foi a tese central do processo de impeachment. A corrupção infesta a política em séries históricas implacáveis, empestando todos os mandatos políticos do país, debilitando a sua frágil democracia no momento atual, quando se impõe à força, à uma sociedade atônita, um projeto político indireto, filho do poder econômico e com todo o aval da grande mídia.

Cumpre-se também, o terceiro princípio do diapasão midiático. O capital tem pressa em cobrar a fatura do impeachment. A mídia passa seus recados ao presidente indireto Michel Temer. Clama pela aprovação em segundo turno da Pec 241, e, com sua narrativa sintética e suas imagens em hd, avisa: Somos mestres em erguer e derreter personalidades e autoridades. E sempre ficaremos com o melhor ângulo da cobertura.

 

 

Este post será publicado amanhã, em minha coluna impressa do Jornal A União.