Os Cidadãos de Bem Estão na Rússia

O Brasil midiático está envergonhado com as peraltices dos brasileiros com as mulheres russas. Sim, toda indignação é pouca para essa bandalheira. Entretanto, eu tenho aqui um rol de observações incômodas a serem feitas para mídia brasileira.

Senão vejamos: Recordam-se da abertura da Copa do Mundo em 2014, quando a presidenta Dilma Rousseff foi veementemente ofendida por um bando ruidoso de torcedores, que em alto e bom som, mandavam que ela fosse tomar ali onde não pode ser escrito?

Não duvido nada que alguns desses espécimes, brancos, endinheirados, também foram para a Rússia, levando na bagagem o seu machismo, a sua educação de quinta categoria, o seu smartphone de alta resolução, para causar com as garotas russas.

Pois bem, no episódio de 2014, ficou o dito pelo não dito. A imprensa falou pouquíssimo sobre o episódio, e não duvido que alguns âncoras até tenham se regozijado, pois vivia-se o terrível clima pré-eleitoral.

A mais alta autoridade do país, diante de inúmeros estadistas estrangeiros, sendo literalmente mandada a tomar onde não pode ser escrito, e tudo depois sendo tratado como peraltice, como brincadeirinha de jovens rebeldes. A grande mídia, esta senhora conveniente, fez cara de pouco caso e desprezou o tema, apesar do seu alto valor de noticiabilidade, da forte capacidade de indignação que a cena continha.

Por que agora todo esse espanto para os episódios da Rússia? A mídia não reconhece esse tipo de gente? Não identifica a formação do seu DNA, naquilo que há de pior na cultura brasileira, perpetuado e reforçado por uma flagrante falta de impunidade? A mídia Vende a ideia de que o povo brasileiro é simpático, acolhedor, gentil. Oi? E então o episódio de 2014? E as lamentáveis cenas de mulheres sendo violentadas para que depois se exponha tudo com todas as cores bizarras nas redes sociais? Pior, gente! E os ancoras de tv que desancam impunemente as mulheres, destilando misoginia e machismo, de maneira impune, com louvação inclusive de grandes levas de comentaristas de ocasião?

E no parlamento, então a mídia não se indigna com esses senhores de paletó e mandato, fazendo apologia ao estupro e à degradação da mulher?

Pois bem, senhora grande mídia, apresento-lhe o que há de pior na cultura brasileira, essa massa cheirosa que gasta muito dinheiro e resfolega, tanto aqui como lá, sobre as noções mínimas de boa educação e de respeito, para mostrar-se  como realmente é, machista, misógina, porque nem nada nem ninguém pode atrapalhar sua brincadeirinha. São da mesma leva daqueles meninos do plano piloto, lembra-se, senhora grande mídia. Aqueles meninos só queriam brincar, quando acenderam, e levaram à morte, até as últimas células, o índio pataxó que dormia na calçada.

Esse povo vive aqui, senhora grande mídia, e tanto aqui como lá, eles só querem brincar. E se algo der errado, o manto protetor da lei os há de proteger.

 

Todas Somos #KalineLima

No mundo todo, em menor ou maior incidência, mulheres ainda correm perigo em pleno século XXI. No Brasil, ainda que a legislação esteja cada vez mais punitiva, todos os dias mulheres são mortas por um ente da sua família, em geral, pelo marido ou companheiro, são estupradas por desconhecidos, que muitas vezes acabam por matar a vítima. Sofrem assédio no trabalho, no consultório médico, num simples passeio em final de tarde.

E por que será que persiste e se alastra essa violência contra a mulher? A cultura machista, entranhada na sociedade, difundida pela cultura de massas, telenovela, produções cinematográficas, jornalismo sensacionalista, música, difundem essas ideias bizarras de que a mulher merece esse tratamento de subjugação, de violência, de assédio e escárnio.

Na Paraíba, a cultura do ódio e do desprezo pela mulher,muitas vezes extrapola a cena doméstica ou mesmo os terríveis episódios de rua, para ser ecoada alto e bom som, nos microfones e câmeras das emissoras de tv locais. Um fato dessa natureza vem ocorrendo esta semana, no programa televisivo do apresentador Siqueira Júnior, da tv Arapuan.

O apresentador se utiliza do linguajar mais chulo e desrespeitoso, para desqualificar  a cantora rapper, Kaline Lima, que ousou fazer críticas a um seu posicionamento misógino, sobre mulheres que não pintam as unhas dos pés, as quais o apresentador considera como “sebosas”.

Ameaças, insultos e chingamentos preconceituosos vêm sendo despejados conta a cantora alto e bom som, numa emissora que por dispor de concessão pública, deveria zelar pela qualidade do seu jornalismo, dos seus programas de entretenimento, da sua capacidade de formar uma opinião pública inteligente, qualificada e isenta de preconceitos.

O apresentador rosna suas ameaças e insultos porque sabe que não será punido. Sabe que uma onda de proteção estende-se sobre a sua fala odiosa, onda protetora que começa na própria tv, e muitas vezes alastra-se pelo resto da sociedade, e, o que é pior, muitas vezes na própria justiça, que não reconhece a venalidade desse comportamento vil.

E quem é Kaline Lima, que está sendo chamada de gorda, feia, mal amada, revoltada, além de outros insultos escabrosos, ao vivo pela tv Arapuan, nas manhãs de João Pessoa?

Kaline Lima é jornalista formada pela UFPB; é casada, mãe, ativista na cena cultural pessoense, envolvida com as comunidades da periferia, artista de sucesso, na sua banda musical “Cinta Liga”.

É para esta mulher que Siqueira Júnior despeja seu ódio visceral, apresentando ao vivo e a cores, o pior do seu espírito, formado num caldo de cultura venenoso.

E, das últimas linhas desta coluna, só me resta conclamar às mulheres e homens que desejam uma sociedade esclarecida: desliguemos a tv Arapuan. Denunciemos na própria tv, a fala tosca de Siqueira Júnior. Denunciemos ao Ministério Público,o assédio moral ao qual está sendo submetida Kaline Lima, por ter ousado criticar o discurso misóginoecoado em uma concessão pública de tv.

(Este post será publicado manhã, em minha coluna no jornal #AUnião