Os Crimes do Brasil

Não, os verdadeiros crimes do Brasil não são estes dos quais o ex-presidente Lula é acusado e é mantido preso por mais de quatrocentos dias na polícia federal de Curitiba.

Os verdadeiros crimes do Brasil são de toda ordem, e se sucedem numa escalada assustadora, a maior parte deles sob o manto do silêncio da mídia tradicional, do parlamento, do poder judiciário.

Os verdadeiros crimes do Brasil ocorrem as claras, enquanto a suprema corte destila sua retórica inócua e antiquada, para justificar sua incapacidade de fazer justiça.

Os verdadeiros crimes do Brasil buscam o aniquilamento do país como nação. Chegam como disparos de fuzis, e vão abrindo feridas incuráveis na vida brasileira.

Quero aqui falar de alguns desses crimes, perpetrados sem qualquer barreira impeditiva, arranjados com selos, carimbos e protocolos do governo central.

A entrega da base de Alcântara aos Estados Unidos. Eis aqui um crime grave e verdadeiro, uma espécie de escravização do Brasil à tecnologia de ponta americana, um golpe fundo na soberania nacional, sob o manto do silencio da lei.

A drástica redução nos orçamentos da educação superior, da ciência e tecnologia. Este crime comunica-se com o primeiro. Interna e externamente, o país precisa estar submetido à nação de Donald Trump.

Outros crimes eclodem em muitas outras searas. Os oitenta tiros no músico carioca; as centenas de mortes de crianças e adolescentes nas favelas brasileiras; a perseguição às populações indígenas e aos movimentos sem-terra e sem teto.

Há crimes verdadeiros consagrados no próprio âmago do poder executivo. Os trinta e nove quilos de cocaína num dos aviões da comitiva presidencial é um crime verdadeiro.

As descobertas do Coaf envolvendo um dos filhos do presidente, eis um crime verdadeiro, que sequer mobiliza trabalho jornalístico de peso na mídia tradicional. O arsenal com cerca de 117 armas descoberto numa das casas do condomínio do próprio presidente, e, ao encerrar-se desta noite de quarta-feira, o estampido de um outro crime: Arsenal de mais de mil armas apreendido na Argentina, com destino final, o país de Bolsonaro.

O verdadeiro crime brasileiro, é o desmonte do país, que se faz a mãos largas, com brutalidade e ignorância, um país grande, sendo atirado ao despenhadeiro.

A sociedade, parte distraída, parte angustiada, assiste à retórica do Supremo em um jogo de cartas marcadas. Sítio de Atibaia, pedalinhos e triplex do Guarujá. A parcialidade, como um longo lençol de ferro, recobre a longa noite do ex-presidente Lula. Os verdadeiros crimes prosseguem, com uma sanha avassaladora, sob o manto da covardia e da indiferença dos poderes do país.

Escute a terra estalando. É o repicar de mais um crime verdadeiro, com centenas de agrotóxicos sendo liberados direto na veia dos brasileiros.

Escute essa dura sonoplastia de guerra. Escute o país arrojando-se para o abismo, com tantas mãos sujas de sangue e de ódio. É madrugada, e quantos de nós não conseguem conciliar o sono, à escuta dessa sinfonia sórdida…

Quando a Notícia Atropela o Jornalismo

                Em tempos de jornalismo mínimo, factual, declaratório, enquadrado sob um único ângulo, feito geralmente sob a velha rubrica do lead insosso do “quem, diz o que, a quem, com que efeito”, as vezes esse tipo de jornalismo é impactado por um “cisne negro”, um iceberg, um tsunami.

                Foi o que ocorreu no início desta semana, quando o site The intercept br divulgou reportagens com farto material sobre a operação Lava Jato e suas nada corretas relações. O escândalo repercute em toda a sociedade, reverbera estrondosamente nas redes sociais, e, colocou em operação de guerra, a equipe de profissionais da rede Globo, muitos deles, os mesmos que trabalharam com o insólito episódio conhecido como “bolinha de papel”, envolvendo o candidato José Serra, na campanha eleitoral de 2010.

                O mecanismo é o de sempre. Se você tem um escândalo muito grande, que ameaça inclusive os negócios da Globo, invente logo uma boa cortina de fumaça. Grite. Esperneie. Chame os âncoras para ensaiar as performances.

                A cortina de fumaça da vez envolve a invenção de um hacker poderoso, que invadiu os celulares de procuradores do MPF, de membros da força tarefa da Lava Jato, e de jornalistas da Globo.

                Enquanto as redes sociais repercutem até à exaustão, as promíscuas relações entre o então juiz Moro, com o MPF, ministros do Supremo e até agentes americanos, o Jornal Nacional esmera-se em noticiar as ações do  , encenar seus diálogos, revelar sua disposição em se apresentar.

                Com seu mecanismo de falsear a realidade, inventar barrigas,enquadrar a realidade de acordo com os seus interesses,  a rede Globo vai aprofundando o fosso entre o seu jornalismo e os interesses da sociedade. Vocifera contra os vaz                     amentos que agora colocam a Lava Jato em cheque, quando ela própria beneficiou-se largamente dos vazamentos praticados pelo então juiz Moro, nas suas ações persecutórias contra o ex-presidente Lula. Os crimes de Moro eram apregoados e louvados pelos âncoras da Globo, que agora transpiram ódio pelo estupendo e corrosivo material que o The Intercept vem divulgando desde o domingo nove de junho.

                A verdade é que nesses cinco anos de Lava Jato, Moro, Deltan

dallagnol, agentes da polícia federal e rede Globo, constituíram uma força-tarefa poderosa, operando com a narrativa do ex-presidente Lula como chefe da maior quadrilha corruptora do país. As ações céleres do juiz, no caso Lula, retiraram o ex-presidente da corrida eleitoral, e, encarcerado em Curitiba, foi impedido de falar, e assim a candidatura petista perdeu as eleições de 2018 para o candidato Jair Bolsonaro.

                A façanha de Moro e sua equipe, rendeu-lhe o superministério da justiça, mas, agora vem à tona o cheiro fétido dos porões onde tudo isso foi urdido.

                Nas instâncias do “Morogate”, o poderoso hacker inventado pelo mecanismo da Globo nunca teve tanto espaço de tv. Já o The Intercept trabalha duro para entregar material jornalístico de qualidade, em torno das mais de mil horas de informação que segundo informou, uma fonte anônima entregou ao site.   Não se sabe quem vencerá essa batalha. Se a república de Moro, ou o jornalismo ativista de Glenn Greenhald. A sociedade, esta sim, vê desmoronar a democracia, a ética na justiça e a promessa de que o jornalismo oficial faça seu trabalho de acordo com o que promete nos seus manuais.

Nota 1. Este post foi publicado em minha coluna impressa do jornal #AUniao,na última sexta-feira.

Nota 2. a #Globo começa a #desmoronar a barriga do #Hacker!

Nota 3. As próximas  explosões podem implodir a cobertura dos #Marinho!