A Copa do Mundo e os Gols Contra da Mídia Brasileira

O primeiro gol contra da mídia brasileira foi marcado muito tempo antes que o árbitro apitasse o início do primeiro jogo, em 13 de junho. Foi marcado um ano antes, quando a mídia apostou numa cobertura que previu a catástrofe, o caos, a violência e o desacerto absoluto da Copa brasileira.

A orquestração sistematicamente aplicada foi tão bem sucedida, que contaminou o país de pessimismo e desconfiança, os quais só foram quebrados mesmo com os times em campo, o Brasil vencendo da Croácia, a própria mídia correndo atrás para retificar sua cobertura desastrosa e participar da festa da Copa.

Infelizmente, a mídia marcaria outros gols contra, alguns deles repercutindo inclusive fora do país.

Demos ao mundo uma das maiores barrigas do século praticada pelo jornalismo que orbita entre a brincadeira e a coisa séria. O jornalista Mário Sérgio Conti, em meia hora de voo, do Rio para São Paulo, entrevistou o sósia do técnico Felipão e não se deu conta que tudo não passava de brincadeira. Ao repórter da Zero Hora, o jornalista admitiu: “Pensei realmente que era o Scolari. Nunca estive com Felipão. Sequer vi entrevistas dele na televisão…” Um escorregão terrível, uma falha primária, um verdadeiro apagão nas rotinas do apurar, checar, conferir.

Entre brincadeira e coisa séria, o terceiro gol contra veio de caldeirão. Lembremos a oferta feita pelo Caldeirão do Hulk, incentivando jovens solteiras a buscarem um gringo e viverem um dia de namoro no Caldeirão. O fato abominável apela para o que há de mais nocivo: Mulher brasileira, mais exploração sexual, mais estrangeiros.

Hulk foi mais longe na exibição do seu modo irresponsável de pensar em cadeia nacional de televisão, e, no sábado passado, comparou a derrota da seleção brasileira à tragédia terrorista que culminou com a queda das torres gêmeas, matando milhares de pessoas nos Estados Unidos.

Não há como não pensar nisso agora, depois que a euforia do Mundial 2014 começa a arrefecer, a ceder lugar à rotina, ao agendamento de outras pautas. A educação, ou a falta dela, foi posta à prova, em todas as instâncias da nossa sociedade. Como li em um post no facebook, a Copa acabou como havia começado, com um flagrante desrespeito à maior autoridade do país, a presidente da República, o qual foi novamente posto em prática, em vaias altissonantes que tiveram de ser abafadas pelo som do estádio. Mais grave que isso porém, é a celebração desse episódio bizarro, por parte da mídia comercial.

Mal acabadas, as vaias logo ganharam as manchetes dos principais jornais, através dos seus portais. Nenhuma nota de incômodo, qualquer conotação crítica, ao contrário, pressentia-se nesse tipo de cobertura um tom celebratório.

Mostramos ao mundo o que somos: Um país sem educação, e mais que isso, um país que não tem qualquer orgulho por ter uma presidente mulher, ladeando uma das maiores autoridades do mundo, Angela Merkel, chefe do governo alemão.

Monopólio, audiência e pouca educação. Em geral essa combinação cria as celebridades da televisão brasileira, elas que alegram as tardes de sábado e domingo das massas e passam a ideologia das grandes cadeias televisivas nacionais, geralmente sintonizadas com o capital, os lucros, a defesa de um status quo que em nada ameace a liberdade das empresas, do monopólio, do pão e do circo orquestrados com o que há de pior na cultura midiática.

 

Blogs de Jornalistas

Eles estão na mira da imprensa mundial. Na transição entre o jornalismo clássico e a era da transferência da produção sobretudo para o mundo digital, as empresas noticiosas agora começam a olhar para os blogs dos seus jornalistas e pensar duas vezes se mantêm ou não os conteúdos autônomos dos seus empregados.

No final de junho, numa atitude que foi considerada uma das polêmicas do mês na área da comunicação, o New York Times anunciou a desativação da maioria dos seus quase cinquenta blogs,dando uma clara demonstração de que a reformulação do modo como publica os seus conteúdos envolve o controle absoluto das rotinas de distribuição da informação.

Felizmente a novidade da caça aos blogs ainda não chegou por aqui. Lançados em meados da década de noventa, em 2010, os blogs já eram uma realidade absoluta em todos os portais de notícia dos grandes jornais brasileiros.

A ferramenta modifica completamente a relação entre jornalismo e leitores. As especialidades têm seu lugar, e, os blogs de política, ecologia, moda, variedades, esportes, orbitam tanto nos grandes portais quanto independentemente, produzidos geralmente por jovens, jornalistas ou não, disputando espaço e postando conteúdos na blogosfera.

O embate entre jornalistas blogueiros e jornalistas clássicos, em alguma medida, reativa o velho debate entre os gêneros jornalísticos. Os blogs são o lugar por excelência para a prática do jornalismo opinativo, potencializada pela a interação em tempo real com os leitores, que comentam, curtem e compartilham. O jornalismo clássico, por sua vez, tende a apostar na notícia informativa, ligeira, sintonizada com a ideia de um leitor apressado, pouco afeito à leitura de textos mais longos.

Blogs de jornalistas também têm lugar privilegiado no jornalismo paraibano, são eles que dão o tom do jornalismo opinativo em nosso estado. No campo político, em alguma medida, os blogs sintonizam-se com as polarizações políticas, assumindo muitas vezes a defesa de uma vertente em detrimento das outras.

A Paraíba sente falta de um espaço plural, onde todas as vozes, todos os sotaques, as diversas opiniões políticas possam ser publicadas, com autonomia e independência. Esse jejum, no entanto, pode ser quebrado ainda esta semana, com a chegada à blogosfera pessoense, do mais novo blog do jornalista Nonato Guedes, http://www.@nonatoguedes.com.br.

O jornalista vem anunciando o acontecimento na última semana em seu perfil no facebook,e promete criar um espaço plural, autônomo, onde se possa argumentar sobre os mais variados assuntos, sobretudo política, no bom estilo do jornalista.

Dono de um texto primoroso, aliado à vasta experiência acumulada, Nonato Guedes, considerado um jornalista tradicional, utiliza-se das redes sociais com a mesma desenvoltura com que usava a máquina de datilografia. Com o seu blog, ganharão pois os leitores da Paraíba, que carecem de espaços plurais, conjugados com a maestria no fazer da opinião no jornalismo.

 

Este post foi publicado em minha coluna de quarta-feira, no Jornal A União

Atletas Cegos Brilham na Finlândia e ganham Ouro para o Brasil

Nove Brasil, um Finlândia. Este foi o resultado da final do mundial de Goalball, realizada hoje pela manhã, na sede do evento. Enquanto o Brasil assistia às quartas de finais da Copa do Mundo de futebol, Nossos para-atletas se preparavam para a vitória, para trazer o ouro para o Brasil, numa lavada que apenas permitiu aos donos da casa um único gol.Um detalhe? Os atletas da seleção de goalball são cegos. Esse é mesmo apenas um detalhe. Os meninos jogaram muito bem e conquistaram com garra o mundial.

Cento e sessenta atletas cegos participaram deste Mundial de Goalball, que em sua décima edição, teve início no último dia 30 de junho, na Finlândia, reunindo dezesseis seleções no goalball masculino, e doze seleções no feminino.

Em tempos de Copa do Mundo, em tempos em que fatos desportivos ganham alto valor de noticiabilidade, é provável que o feito dos atletas brasileiros cegos nem seja noticiado na mídia tradicional. Na página da Confederação Brasileira de Desportos para Cegos, CBDV, a notícia estava estampada desde as primeiras horas da manhã de hoje, e dizia: “SIM, SOMOS CAMPEÕES DO MUNDO!

O Goalballl masculino brasileiro deu um show no ginásio Tapiola, em Espoo, na Finlândia, e venceu os donos da casa por 9 a 1.

Com a conquista o Brasil alcançou o topo do Mundo pela primeira vez na história.”!!!

A conquista no feminino também não é de se desprezar. Ficou entre as cinco melhores seleções participantes.

O goalball, modalidade desportiva criada inicialmente para vítimas de guerra que perderam a visão, é, ao lado do futsal para cinco, um esporte que mobiliza atletas cegos do mundo desde a década de sessenta. Em nosso país, o desporto para cegos é organizado pelo Comitê Para-olímpico e pela CBDV, atualmente presidida pelo desportista carioca sandro Laina soares.

Na seleção brasileira de goalball, vitoriosa na Finlândia, a Paraíba também brilha. Os atletas Lemon e Diego Romário, jogam habitualmente no time da Associação Paraibana de Cegos, Apace. Lemon foi o artilheiro desse mundial, com cinquenta gols, emquanto que Romário Diego fez trinta gols. José Roberto, integrante do time de Goalball do Instituto dos Cegos Adalgisa Cunha, , também da Paraíba, jogou bem para ganhar o ouro.

Eis aqui um condimento a mais para empurrar o Brasil para uma final vitoriosa da Copa do Mundo 2014. Que essa vitória do Goalball também chegue até Neimar, como um grito de #ForçaNeimar, forte e competente. Parabéns à CBDV, parabéns aos atletas cegos do Goalball brasileiro!

Notícia de rua

As cidades são vivas. As cidades são vivas porque existem pessoas vivendo nelas. Uma rua não é apenas uma comprida linha de asfalto, margeada por prédios, terrenos baldios e árvores antigas. Uma rua é a própria rotina das pessoas que vivem nela, em suas casas, servidas por pequenos ou grandes jardins, ou mesmo por árvores de sombra, plantadas à frente ou nas laterais do portão.

Não, não se iluda. Uma rua não é o resultado desse trabalho de concreto, ferro e cimento, com sua capa de asfalto escuro. Uma rua é sobretudo os hábitos das pessoas que vivem nela, que dispõem suas coisas, suas árvores, seu modo de caminhar, suas vestimentas, suas sacolas de compras, seus carros, suas bicicletas, seus tênis de marca, suas sandálias, muitas sandálias.

Uma rua, como se fora um imenso obituário branco, alimenta-se de pequenas mortes: Da velha árvore centenária, do pequeno inseto esmagado, da aposentada do terceiro andar do prédio de esquina, do pequeno fiteiro que já não está no lugar de ontem, da livraria fechada, do menino de rua ferido por uma bala perdida.

E eis que de repente regurgita de vida, a rua, com gente nova que chega, lojas novas que se abrem, um jeito novo que o entregador de jornais inventou para o seu penteado moicano.

Não, uma rua não se faz com notícias da mídia. Uma rua se inventa toda hora, e a cada invenção, são incontáveis as notícias de rua que não se publicam.

As ruas se intercomunicam. Uma rua sabe logo a notícia de outra rua. E, como numa espécie de onda, algumas vezes, ruas e ruas repetem o modo de ser começado em uma pequena viela, em uma grande avenida, em uma rua de periferia.

Minha rua está hoje verde e amarela. Caminhei, caminhei, e, soube que a todos surpreendeu a mesma ideia, o mesmo modo de vestir-se, sem alarido, sem correria, quase que silenciosamente, uma onda verde e amarela tomou conta das calçadas, do caminho apressado de homens e mulheres, da travessa alegria infantil.

Palmilhei outras ruas, visitei pequenas vielas sem importância, cruzei a longa avenida que acolhe o tráfego entre a praia e o centro da cidade. Todas as ruas vestiram-se hoje de verde e amarelo, como se formássemos todos um grande time de futebol, espalhado pela cidade, inventando a geografia de um país inteiro vestido assim, de verde e amarelo.