Nossas Frases Prediletas

Quando o dia de uma garota 5.0 começa, mesmo sem falar, ela tem algumas frases prediletas. 1. na hora do banho. ˜[é muito gentil essa carícia do meu óleo de banho da Loccitane!
2. Na hora do café. Não posso viver sem… a minha fatia de mamão.
3. Na hora de ir pro trabalho. Não gema no táxi, é feio de mais, e denuncia o estado dos seus ossos!
4. Na hora do almoço. Adoro essa rotina de frango grelhado, salada e legumes!
6. Na hora do lanche. Seu maior sacrifício, comer as três castanhas recomendadas.
7. Na hora do jantar. Garota 5.0 não pratica esse verbo nem conhece os seus gases.
8. Na hora de dormir.
Corpo lavado, alma quase saindo para uma vib no planeta dos sonhos, esse que é o território da sua liberdade!

Insônia

Não lute contra essa sua visita noturna. Ela vem de dentro, como uma clareira, estende-se sobre a sua noite como um lençol amarelo, como se ainda guardasse a aridez de alguma planta onde esteve estendido, secando suas horas. Permita que ela fique, escute todas as suas falas, o seu script meio esquizofrênico, zaping sobre todos os temas nos quais você daria tudo para não pensar agora. Não se revolte. Tenha paciência com ela. Drible a sua insônia, escutando o vago bulício da madrugada viva, sentindo na pele a brisa suave, cheirando às flores do jardim da casa vizinha.Permita-se ficar acordada, respire fundo, invente uma canção. E saiba disso com todas as letras: Estar insone é uma coisa que só acontece com os que estão vivos.

Pílulas Poéticas, Disparos de Solidariedade

Arte, poesia, exclusão social. Quando essas três coisas se associam, a sinergia é de transformação, de crescimento, de empoderamento, de pavimentação das trilhas da cidadania acontece.

É assim que pensa Maria dos Mares, presidente da Associação de arte e cultura “Nova Paisagem”, entidade sem fins lucrativos, situada no município de #Cabedelo e dedicada ao desenvolvimento de programas de promoção social e artística que ampliem o universo crítico cultural da comunidade e a sua capacidade de ação frente aos problemas socioeconômicos e de toda ordem ali enfrentados.

#Cabedelo, cidade portuária, está entre aqueles municípios que arrecadam os maiores Produtos Internos Brutos do Estado. Polo turístico e de desenvolvimento, o município não retorna aos seus cidadãos, as benesses dessa colheita.   Dados informais retirados do blog da Associação “Nova Paisagem” dão conta  da existência de “dezenove favelas ou assemelhados com mais de 3000 domicílios ou loteamentos irregulares e cortiços.”

Essa pequena faixa de terra, limitada a leste por um litoral de praias onde veraneia uma população de alto poder aquisitivo e a oeste pelo importante polo turístico conhecido como #Jacaré, #Cabedelo apresenta os sintomas claros de uma cidade em que a política não pensa nos cidadãos, mas antes propicia a mercantilização, os lucros fáceis, a capitalização da natureza e do turismo em favor de projetos empresariais individuais ou de grupos econômicos empenhados sobretudo na especulação imobiliária e-ou financeira.

Jardim Alfa, uma das dezenas de favelas da cidade, arregaçou as mangas e está reciclando a vida dos seus moradores. Crianças, adolescentes, adultos, pessoas com deficiência, num galpão emprestado, criam peças de artesanato, buscam apoio na arte, dão-se as mãos e tentam reverter o quadro desvantajoso e que fatalmente, Brasil a fora, tem empurrado milhões de pessoas aos rincões da clandestinidade social.

Na noite da última quinta-feira,  17 de outubro, a comunidade de Jardim alfa em peso esteve no Restaurante Café São Jorge, no centro de João Pessoa, para um ato de solidariedade que reuniu poesia, arte e inclusão. O poeta Lau Siqueira acabou de publicar seu último livro de poemas, na coleção “Instante&Estante”, da Editora #Castelinho, Porto alegre.

Entusiasta das causas populares, militante pela cidadania nos trilhos da arte e da poética. Lau Siqueira doou toda a renda do seu lançamento aos projetos da favela Jardim alfa, disseminando com esse gesto, a ideia  de que a arte compartilhada é como a semeadura de um novo lugar, um solo onde se pode sair da invenção das utopias, para a sua materialidade.

Que as pequenas pílulas poéticas de Lau Siqueira, encravadas no coração do Jardim alfa, disparem mais solidariedade nessa rega em que a principal colheita tem de ser a valorização da dignidade humana, a cidadania.

 

(Saiba mais sobre a Associação “Nova Paisagem” em http://www.novapaisagem.blogspot.com).

As Mulheres de Alice Munro

Instigada pelas notícias televisivas e pela conversação nas redes sociais, fui folhear a obra de Alice Munro, escritora canadense Premio Nobel de literatura. Comprovei, à primeira página, que a obra da escritora é daquelas que não se folheiam.

Você começa a ler um dos seus contos, e de imediato é capturada pela força da narrativa, de pronto acha-se  enredada na teia dos acontecimentos, tocada pela vividez das paisagens, o cheiro da grama, o impacto da água gelada, a suave quietude do final do dia, o assombro (ou seria encantamento)? pelo que a sua narrativa pode inventar, do meio do nevoeiro.

Não, a obra de alice Munro não é para folheadores. A sua narrativa pede um leitor atento, cingido ao seu traço firme, leitor que escave com ela armários e gavetas,margens de rios cobertas de neve.  Pede uma leitora meticulosa, que planeje ao pé mesmo do texto ainda por ser lido, os gestos para o crime imprevisto, a fuga repentina, uma leitora que no ato mesmo de se cumprir o ápice, suspenda o golpe, volte atrás, e recomece com a escritora, um outro modo possível de narrar.

Fico imaginando as perguntas inoportunas que ela já deve ter ouvido dos jornalistas: – Quanto tempo leva para escrever um conto? Da onde vem a sua inspiração?

A obra de Alice Munro, frase à frase, é uma construção em perspectiva do mundo e do espírito humano. Nenhum verbo, nenhum adjetivo, nenhum advérbio fora de tempo e de lugar. Dando voz aos seus personagens, usando a sua narrativa para lhes criar a liberdade de habitarem as estórias, escreve sobre a sua terra, sobre pequenas vilas e cidades do Canadá, mas é como se dali, do seu pequeno jardim, arrancasse verdades universais, como se falasse de pessoas como eu e você, como se de repente adivinhasse aquele pesadelo indecente da noite passada, que a fez acordar, alagada em suor e desejo.

Do primeiro ao último conto, da primeira à última frase de cada conto, a autora lhe entrega, de modo pródigo, uma narrativa magistral, e lhe deixa assombrada, por esse encontro mágico,  por esse reconhecimento, por esse como acender de uma luz, por  essa comunhão.

Alice Munro não empresta às suas mulheres narradas, nenhum adereço, além da sua feminilidade. Essa feminilidade entretecida de força e fragilidade, de beleza e juventude, de velhice sóbria, raiada por uma discreta, e por isso mesmo, absoluta solidão.

Juliet, Enid, Kath e Sonje,esses e tantos outros nomes emprestam-se às personagens de Alice Munro,dão corpo aos dramas, aos desacertos, encontros e desencontros, em tramas habilidosamente construídas, de modo a nos entregar, para cada conto, um final imprevisível e muitas vezes desnorteantemente simples. Ler alice Munro é um exercício que nos faz pensar na literatura, Como essa espécie de vereda, essa fenda amaldiçoadamente abençoada, por onde mundos previsíveis e inimagináveis, universos paralelos, tocam-se e renegam-se, ou, milagrosamente se reconciliam.

Desaprender…

Tanto tempo sem vir aqui, garota 5.0, quase desaprendi como se faz isto. Fiquei doente. Garganta irritada, dor de barriga, regime de torrada e banana, emagrecimento forçado. talvez seja o corpo pedindo tempo, pedindo desaceleração. Passou a febre e eu fui ler Alice Munro. Que escritora magistral! Vo escrever sobre a sua obra em minha coluna para o Jornal A União. A vocês, queridas leitoras, conto que estou de repouso,e queria que esse domingo fosse eterno.